quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Sobre os momentos de partir

Quando eu era pequena, por volta dos 3 ou 4 anos de idade, eu adorava um vestidinho xadrez azul. Ele tinha babados nos ombros e uma saia bem rodada. Eu gostava ainda mais quando usava com as sandálias Melissa, aquelas de modelo tradicional, estilo anos 90. Sempre que minha mãe me vestia com aquele vestido, eu colocava uma bolsinha e me sentia uma verdadeira madame. Eu costumava implorar para que ela me deixasse usar a mesma roupa sempre que saíamos, porque era a minha favorita.

Com o tempo, comecei a crescer, e o vestido começou a ficar apertado. Até que chegou um ponto em que ficou tão justo que não conseguia mais vestir. Por fim, minha mãe doou o vestido para o bazar da igreja. Fiquei alguns dias desolada. Aquele era o meu vestido, e eu não queria me desfazer dele. Demorei um tempo para entender que eu estava crescendo, que aquele vestido não servia mais em mim e que eu teria outros vestidos, ainda mais bonitos, que me caberiam e ficariam melhor.

Estou contando essa história porque quero chegar a um ponto delicado. Por um longo período da minha vida, tive muita dificuldade em identificar situações, relações e lugares que eram tóxicos para mim. Por algum motivo, aqueles momentos me fizeram bem ou feliz em algum momento da minha vida, mas, com o tempo, começaram a me consumir, a me torturar e a tirar meu brilho. No entanto, minha mente se negava a perceber o quanto aquilo me fazia mal e se recusava a entender quando era necessário encerrar o ciclo e seguir em frente.

Depois de várias experiências dolorosas, traumas e situações constrangedoras, comecei a aprender a identificar quando era necessário me afastar de algo ou alguém. Na verdade, esse é um processo que ainda acontece dentro de mim. Às vezes, preciso de um tempo sozinha para olhar a situação de fora e tentar identificar os pontos que preciso observar com mais atenção. Ao longo da minha jornada, aprendi que, quando os momentos ruins superam os bons, aquela situação, pessoa ou lugar não deve continuar fazendo parte da sua vida. É claro que ainda cometo erros em algumas situações, mas estou me esforçando para melhorar.

Atualmente, estou prestes a encerrar mais um ciclo na minha vida. Decidi que vou pedir demissão do meu emprego para focar em outras coisas. Trabalho em um contact center (antigo call center ou telemarketing) há cerca de um ano e meio. Aprendi muitas lições naquele ambiente, e o atendimento ao público foi uma verdadeira prova de fogo. Todos os dias, atendo as mais diversas pessoas de várias partes do Brasil, tentando encontrar soluções para seus problemas. Olha, dizendo assim, até parece que faço algo grandioso, mas, na verdade, apenas atendo o SAC de uma operadora de plano de saúde bem conhecida no Brasil.

Depois de um ano e meio naquele ambiente, percebi que não há mais o que aprender. Conheci pessoas incríveis, outras dignas de pena, e absorvi todas as lições que podia. Também não vejo mais possibilidade de crescimento, pois o local não oferece muitas oportunidades para isso. Esse emprego tem afetado gravemente a minha saúde mental, física e emocional. Por isso, tomei a decisão de pedir demissão em breve, e sinto um alívio ao perceber que estou tomando a decisão certa para a minha vida. Em outras épocas, eu teria insistido muito mais, tentando me encaixar, mas hoje, com uma mentalidade mais madura, percebo que sou grandiosa demais para me diminuir e continuar naquele ambiente limitado.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O Peso do Tempo: Reflexões sobre a Juventude e a Vida Adulta

Houve uma época na minha vida em que ser triste parecia algo divertido, mas era divertido ser triste em grupo. A verdade é que ninguém era realmente triste ou tinha todos os problemas mentais que dizia ter. Hoje, 10 anos depois, olho para trás e me sinto nostálgica, às vezes até me achando patética. Os problemas daquela época são como grãos de areia comparados ao que enfrento hoje.

Para começar, nunca precisei lidar com as consequências dos meus atos enquanto era adolescente. O caos que provoquei e as escolhas erradas só se tornaram realmente um problema depois dos 25 anos, e me atormentam todos os dias.

Em segundo lugar, a falta de dinheiro se tornou algo que eu nunca imaginei que enfrentaria. Não que eu venha de uma família rica, mas, quando era adolescente, bastava pedir aos meus pais dinheiro para um lanche. Hoje, raramente sobra dinheiro nem para isso. O salário mínimo é contado, cada gasto precisa ser planejado; caso contrário, passo os últimos 15 dias do mês sem um real. Este é o meu caso neste mês. É realmente estressante precisar de dinheiro para as coisas mais básicas e não ter como me sustentar sozinha.

Naquela época, as pressões estéticas já eram absurdas, mas, com o tempo, se tornaram ainda mais intensas. Os problemas físicos e mentais afetam meu corpo. À beira dos 30, sinto-me como um grande saco de banha, sem beleza ou atrativos que possam interessar a alguém.

O peso da solidão foi se tornando um fardo cada vez mais pesado. Houve épocas em que me orgulhava de "ser sozinha". Hoje, vivo uma relação de amor e ódio com a solidão. Existem momentos, como agora, em que aprecio estar apenas comigo mesma, mas em outros dias sinto falta de ter pessoas por perto. Isso não significa que eu não tenha amigos. Com o tempo, fiz amizades que, inclusive, me ajudam a suportar a vida adulta. Atualmente, a solidão que mais me incomoda é a romântica. Eu até gostaria de ter alguém com quem dividir a vida, mas volto à questão dos atrativos, que não acredito possuir — grande red flag aqui. Além disso, prefiro estar sozinha do que com qualquer pessoa apenas para suprir carências emocionais. Talvez esse seja um dos pontos positivos da vida adulta: a maturidade emocional — ou, se preferir, um bloqueio amoroso.

Percebi também que o tempo é um grande vilão correndo contra mim. Antes, achava que tinha todo o tempo do mundo, mas sinto que o desperdicei e não fiz nada minimamente admirável.

E então, eu descobri a depressão. Não aquela depressão que eu pensava ter quando era adolescente, que eu acreditava ser apenas uma grande tristeza. Eu descobri o vazio, a sensação de não conseguir me mover, de não ter um propósito. Entendi a falta de sentimentos e como é estar em qualquer lugar e não me importar se é um lugar ruim, porque mudar algo significaria mexer em coisas que eu prefiro manter guardadas. Descobri o álcool dos finais de semana, uma tentativa de esquecer um pouco os problemas. Descobri como olhar para um quarto tão bagunçado e tentar arrumar, mas perceber que dentro de mim existe uma bagunça ainda maior.

Sinto tanta falta de ser adolescente. Sinto falta de ser inconsequente, de não ter preocupações maiores do que fingir tristeza em um grupo de amigos. Compreendo que tudo isso faz parte das escolhas erradas que fiz ao longo do caminho, e não reclamo. Aceito o preço que pago e pretendo continuar sustentando minhas decisões, buscando algo melhor. Mas, ainda assim, não deixo de sentir falta de ser adolescente.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A Volta das Aleatoriedades

Existem mil e uma coisas que eu poderia falar neste primeiro post, um monte de ideias e absurdos, mas já fazem uns 20 minutos que estou olhando para o meu teclado e não sai nada.

Decidi que vou escrever sem roteiro, porque essa é a minha ideia: falar sobre surtos aleatórios. Acho digno fazer uma apresentação sobre mim. Estou à porta dos 30 anos, sou mãe, estranha, sem faculdade concluída, com um emprego horroroso, não tenho o corpo dos sonhos, sou insuportavelmente chata, mas com uma saudade absurda de voltar a escrever aleatoriedades. Esse é um resumo do que supostamente sou, mas há um grande número de camadas, como aquela boneca russa, a matrioska. Sou uma infinidade de sentimentos, sensações, opiniões e ideias que mudam e se desfazem, uma mistura entre curiosidade e covardia.

Sobre a influência da escrita na minha vida, eu já fui muito mais escritora antes do que sou hoje. Amava escrever, mas, por algum motivo, simplesmente parei e agora realmente quero voltar. Na verdade, já faz um tempo que quero retomar, mas sempre adiei. Então hoje eu simplesmente abri o computador e comecei a redigir um longo monólogo sobre a crise dos 30 anos que começa a se abater sobre mim. Foi quando pensei: “Por que não volto a ter um blog? Tipo quando eu tinha 18 anos…” E meia hora depois, estava pesquisando sobre blogs. 45 minutos depois, tentava escrever um primeiro post, e, depois que comecei, as palavras ganharam contornos e vida própria. Como senti falta dessa sensação!

Não tenho grandes pretensões ou expectativas ao escrever. Não escrevo para ninguém específico; na verdade, nem sei se alguém vai ter o trabalho de ler. Eu mal consigo influenciar meu cachorro, quem dirá as pessoas. Mas escrever é bom, faz bem para a minha cabeça, e minha cabeça precisa de algo bom depois de tudo o que tenho passado. Acho que seria isso. Já me estendi além do que realmente tinha intenção, mas estou orgulhosa de finalmente ter começado.