Quando eu era pequena, por volta dos 3 ou 4 anos de idade, eu adorava um vestidinho xadrez azul. Ele tinha babados nos ombros e uma saia bem rodada. Eu gostava ainda mais quando usava com as sandálias Melissa, aquelas de modelo tradicional, estilo anos 90. Sempre que minha mãe me vestia com aquele vestido, eu colocava uma bolsinha e me sentia uma verdadeira madame. Eu costumava implorar para que ela me deixasse usar a mesma roupa sempre que saíamos, porque era a minha favorita.
Com o tempo, comecei a crescer, e o vestido começou a ficar apertado. Até que chegou um ponto em que ficou tão justo que não conseguia mais vestir. Por fim, minha mãe doou o vestido para o bazar da igreja. Fiquei alguns dias desolada. Aquele era o meu vestido, e eu não queria me desfazer dele. Demorei um tempo para entender que eu estava crescendo, que aquele vestido não servia mais em mim e que eu teria outros vestidos, ainda mais bonitos, que me caberiam e ficariam melhor.
Estou contando essa história porque quero chegar a um ponto delicado. Por um longo período da minha vida, tive muita dificuldade em identificar situações, relações e lugares que eram tóxicos para mim. Por algum motivo, aqueles momentos me fizeram bem ou feliz em algum momento da minha vida, mas, com o tempo, começaram a me consumir, a me torturar e a tirar meu brilho. No entanto, minha mente se negava a perceber o quanto aquilo me fazia mal e se recusava a entender quando era necessário encerrar o ciclo e seguir em frente.
Depois de várias experiências dolorosas, traumas e situações constrangedoras, comecei a aprender a identificar quando era necessário me afastar de algo ou alguém. Na verdade, esse é um processo que ainda acontece dentro de mim. Às vezes, preciso de um tempo sozinha para olhar a situação de fora e tentar identificar os pontos que preciso observar com mais atenção. Ao longo da minha jornada, aprendi que, quando os momentos ruins superam os bons, aquela situação, pessoa ou lugar não deve continuar fazendo parte da sua vida. É claro que ainda cometo erros em algumas situações, mas estou me esforçando para melhorar.
Atualmente, estou prestes a encerrar mais um ciclo na minha vida. Decidi que vou pedir demissão do meu emprego para focar em outras coisas. Trabalho em um contact center (antigo call center ou telemarketing) há cerca de um ano e meio. Aprendi muitas lições naquele ambiente, e o atendimento ao público foi uma verdadeira prova de fogo. Todos os dias, atendo as mais diversas pessoas de várias partes do Brasil, tentando encontrar soluções para seus problemas. Olha, dizendo assim, até parece que faço algo grandioso, mas, na verdade, apenas atendo o SAC de uma operadora de plano de saúde bem conhecida no Brasil.
Depois de um ano e meio naquele ambiente, percebi que não há mais o que aprender. Conheci pessoas incríveis, outras dignas de pena, e absorvi todas as lições que podia. Também não vejo mais possibilidade de crescimento, pois o local não oferece muitas oportunidades para isso. Esse emprego tem afetado gravemente a minha saúde mental, física e emocional. Por isso, tomei a decisão de pedir demissão em breve, e sinto um alívio ao perceber que estou tomando a decisão certa para a minha vida. Em outras épocas, eu teria insistido muito mais, tentando me encaixar, mas hoje, com uma mentalidade mais madura, percebo que sou grandiosa demais para me diminuir e continuar naquele ambiente limitado.