Quando eu era criança, sonhava em ser bailarina. Amava balé. Amava ainda mais ginástica rítmica. Era o meu grande sonho: subir nos palcos, competir, ser reconhecida dentro daquele universo que parecia tão mágico. Mas, como acontece com muitos sonhos infantis, esse também ficou pelo caminho. E tudo bem... ou, pelo menos, era isso que eu tentava acreditar. Na época, achei que aceitar a desistência era o suficiente. Mas, com o tempo, percebi que algumas coisas deixam marcas profundas — principalmente quando tocam direto na forma como a gente se enxerga.
Nunca fui o tipo de menina que as pessoas olham duas vezes na rua. Nunca fui considerada bonita, muito menos impactante. Sempre fui "a amiga estranha" de alguém linda demais. A comparação era constante — mesmo quando ninguém dizia nada, ela existia. E quando diziam… bem, doía.
Desde que me entendo por gente, estou acima do peso. Sempre tinha alguém para comentar sobre isso. Quando não era um parente, era alguém da ginástica. Com o tempo, aprendi que existia algo errado em mim. Não porque eu achava isso, mas porque me ensinaram assim. E foi aí que tudo começou a desandar.
Depois que deixei o balé e a ginástica, continuei lutando com o espelho — e, pior ainda, com a balança. A relação com meu corpo virou um campo de guerra. E, sem perceber, fui entrando em um transtorno alimentar. Primeiro, comecei a pular refeições. Um dia sem comer, depois dois. Até que vinha aquela explosão de ansiedade, raiva, frustração… e eu comia em dobro. E depois vomitava tudo. Era um ciclo. Um ciclo doentio, silencioso — e, por muito tempo, invisível até para mim mesma.
Todos esses anos de conflito com o corpo, somados aos traumas e à cobrança estética constante, criaram uma bagagem emocional que carrego até hoje. Me tornei uma adulta cheia de inseguranças. E, infelizmente, essa ainda é a minha realidade.
Uma parte de mim quer aprender a lidar com minhas imperfeições. Outra parte quer mudar tudo agora. Quero resultados imediatos, mas também sei que só emagrecer não resolve. Eu poderia perder 50kg e, mesmo assim, continuar sem conseguir me olhar no espelho. É difícil ter tanta coisa pra resolver e, ao mesmo tempo, se sentir estagnada — sem conseguir fazer algo que realmente traga algum efeito.