sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Crônica das cinzas

Acendo mais um cigarro, mesmo que eu esteja gripada e com a garganta meio ruim. Hoje é mais uma madrugada em que estou sozinha e dialogando com a minha tristeza.

Eu queria ser outra pessoa, não eu mesma, mas queria ser alguém diferente do que eu sou. Voltaria no tempo para mudar isso, talvez eu não fosse tão triste.

Observo a fumaça do cigarro subir, é apreciável sua liberdade, se a nicotina não fosse algo tão nociva… mas devo admitir que há poesia nela. Destruir a própria saúde pouco a pouco.

Ainda continuo olhando o cigarro se acabar em cada tragada e sinto que é como eu sou. Eu sou como esse cigarro? Quer dizer, continuo me acabando de pouco em pouco. Não posso culpar ninguém pelos meus fracassos, apenas a mim mesma.

Todos esses pensamentos me soam um tanto autodestrutivos. A madrugada parece que será longa e eu estou bebendo mais uma taça de vinho. Bem piegas, a mulher que se destrói bebendo, fumando e tomando decisões erradas.

Será que eu vou ser essa mulher por quanto tempo? Mesmo não podendo beber, mesmo não podendo fumar, mesmo tendo opções melhores, continuo me sabotando.

Claro que eu poderia apenas finalizar tudo, acabar com todo o sofrimento. Basta uma boa lâmina ou uma caixa de remédios potentes… Não, eu não vou fazer isso. Existem coisas que me prendem nessa vida, coisas importantes e eu tenho algum tipo de esperança afincada dentro da minha alma que tudo isso vai melhorar.

Olho tudo em volta, já estou na terceira ou quarta taça de vinho e nem sei quantos cigarros já fumei, só consigo pensar que eu gostaria de ser outra pessoa. Se tivesse a chance de voltar no tempo, provavelmente iria bater no meu antigo eu. Não daria conselhos, apenas iria descer ela no soco. Talvez ela se tocasse que estava tomando todas as decisões burras!!

Fantasiar uma vida que poderia ser um pouco melhor do que estou vivendo é quase um hobbie perverso. Mas eu sigo fantasiando. Não sou e nem nunca fui dessas que pensa que os erros levaram ao amadurecimento e aprendizado. Preferia continuar bem estúpida e vivendo um pouco menos dolorosamente.

A taça cai da minha mão e espatifa espalhando vidro pelo chão, mas nem isso me tira da inércia, apenas olhando mais uma das besteiras que fiz, acendo mais um cigarro e bebo o vinho direto da garrafa. Eu estou bêbada, triste e sozinha. Tudo isso é minha culpa.

Eu deveria fazer algo por mim mesma, mas já estou com 30 anos, sem uma vida estável e sem saber como mudar as coisas para melhor. Sei que não deveria me comparar com outras pessoas, mas é inevitável ver as pessoas com trabalhos bons, vidas estáveis e mesmo que não seja uma vida perfeita. Esse diálogo interno não está levando a nada, o vinho acabou e o maço de cigarros está quase no fim.

Me levanto para procurar mais bebida, mas esqueci da taça espatifada. Um caco de vidro se afunda no meu pé. É uma dor estranhamente agradável, essa dor externa não é nem um átomo do que sinto internamente. Vou ao banheiro, deixando um rastro de sangue pela casa, sento no vaso sanitário e consigo retirar o vidro afundado no meu pé. Quando levanto para lavar minhas mãos me olho no espelho. Estou toda bagunçada, não apenas externa, mas internamente também. A maquiagem derretida em meio aos rastros de lágrimas que nem me dei conta que rolavam pelo meu rosto…

Eu realmente sou um cigarro. Estou me tragando, me acabando, virando cinzas e fumaça.

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Comemoração do meu Refúgio Secreto

Costumo gostar de ocasiões especiais. Sou do tipo que acha interessante as datas comemorativas, momentos em que posso sentar e refletir sobre a existência daquele evento e o porquê de ele ser importante a ponto de merecer uma data para marcá-lo.

Neste mês, completo um ano desde que comecei a escrever as palavras que preenchem este blog solitário. Literalmente, um diário de textos aleatórios, os meus textos soltos. Já enchi diversas páginas com informações, desabafos e sinceridades sobre mim. Me abri, me expus, mostrei minhas partes.

Este espaço acabou se tornando um confidente à parte. Eu não sou alguém que se abre com facilidade pessoalmente, na verdade, nem sempre consigo conversar. Sempre foi um dilema expressar sentimentos, mas passei a me abrir por aqui. E, de alguma forma, isso se tornou poético para mim: escrever em um lugar tão silencioso e vazio. É assim que consigo acalentar minha alma, esvaziar minha mente e ponderar minha existência no mundo.

Confesso que, ao longo do caminho, tive meus tropeços. Vontades de largar tudo e simplesmente desistir. Mas, enquanto escrevia aqui, mantive firme minha regra pessoal dos cinco minutos. Se estou no meio do caos, da turbulência emocional ou de uma crise de ansiedade, sento para escrever. Examino a situação e, depois dos primeiros cinco minutos, consigo me acalmar e encontrar uma saída para aquilo que parecia tão esmagador.

Enfim, este é o meu canto. Meu lar. Meu espaço. Aqui, guardo memórias, algo que tem se tornado cada vez mais precioso para mim, especialmente agora que elas parecem escorrer por entre os meus dedos, como areia.

Sei que posso soar como uma idosa falando assim, mas ainda não sou. Nem cheguei à metade da vida. Mas, com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, com essa constante pressão para me adequar ao que esperam que eu seja, acabo me sentindo exausta... e, sim, um pouco velha.

Acho que me perdi de novo no meio das palavras. O que eu queria dizer, desde o início, é: faz um ano que tenho este blog solitário. Vivi grandes altos e baixos por aqui. E sou imensamente grata por poder escrever.