terça-feira, 24 de junho de 2025

Eu não sei ser mãe

Dizem que, quando nasce uma criança, nasce também uma mãe. Mas o que raramente nos contam é que tornar-se mãe não significa, automaticamente, saber ser mãe. A maternidade não chega com manual, nem com respostas prontas. Ela se constrói no dia a dia, no improviso, na dúvida, no erro e na descoberta. É um caminho muitas vezes difícil — e, para algumas, até doloroso.

Eu ainda estou tentando entender o que significa ser mãe. Tive e ainda tenho, até certo ponto, o apoio da minha família. Mas esse apoio vem cheio de altos e baixos. É como se as pessoas que já passaram por esse processo — que já criaram seus filhos — acreditassem que sabem tudo, e que eu, por estar começando, não sou capaz de aprender por conta própria. Talvez elas saibam algumas coisas mesmo. Mas há outras que eu quero descobrir sozinha.

Tenho minhas ideias, opiniões e meu jeito... um pouco fora do comum. Nunca fui uma pessoa “normal” — seja lá o que isso signifique — e, por isso, nunca imaginei que seria uma mãe dentro dos padrões. Sempre quis ser uma mãe mais aberta, mais disponível, mas também alguém que respeita a individualidade da criança. Quero que minha filha descubra seus próprios gostos, suas próprias ideias, que se torne quem ela quiser ser.

Talvez eu pense assim porque não tive essa liberdade. Fui criada em um ambiente com regras rígidas, em que tudo era definido entre certo e errado com base em um contexto religioso. O certo era o que a igreja dizia; o errado era tudo que fugia disso. Cresci sem espaço para me descobrir, sem incentivo para me aceitar como sou. E, mesmo hoje, sendo uma mulher adulta, ainda é difícil lidar com os conflitos entre o que aprendi e o que realmente acredito.

Além disso, fui criada de forma extremamente dependente — e agora, dar meus próprios passos, criar minha filha com autonomia, tem sido um desafio imenso.

O que desejo para ela vai além de ensinar valores como caráter, compaixão e fidelidade. Quero que ela aprenda a se entender, a se descobrir, a se aceitar. Acima de tudo, quero que cresça livre e independente. E ainda assim, quero ser, enquanto eu viver, o porto seguro para o qual ela sempre poderá voltar.

Sei que tudo isso parece bonito — até meio poético ou brega — mas colocar em prática é outra história. Às vezes, me sinto perdida. Sou uma pessoa difícil, tenho meus limites, meus dias ruins, minhas palavras duras... e ainda moro na mesma casa que a minha mãe.

E esse é, talvez, um dos maiores desafios: ser mãe enquanto ainda sou filha. Na mesma casa. Sob o mesmo teto. Claro, minha mãe tem sua experiência, e não digo que ela tenha falhado — pelo contrário, reconheço o quanto ela foi, e ainda é, uma boa mãe. Mas eu quero criar minha filha do meu jeito. Da forma que considero justa, sensível, equilibrada. E não conforme o que os outros acham certo.

Eu não sei ser mãe. Mas quero aprender. Quero descobrir esse caminho dentro das minhas próprias ideias, das minhas crenças e da forma como vejo o mundo. Porque ninguém nasce sabendo. Descobrimos vivendo. E a maternidade é uma dessas jornadas avassaladoras — que nunca é igual para duas pessoas, nem para uma mesma mulher com filhos diferentes.

O que sei é que esse caminho pode ser cheio de surpresas. Lindo, transformador… e, ao mesmo tempo, profundamente doloroso.


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Os Tormentos de Estar Doente na Vida Adulta

Esses últimos dias têm sido bem complicados para mim. Muita coisa aconteceu em um curto espaço de tempo, e minha saúde acabou sentindo os efeitos — em grande parte, por causa de uma combinação de medicações. Já faço uso contínuo de remédios controlados para tratamento neurológico (não sei se já comentei isso por aqui), e, recentemente, precisei tomar antibióticos para tratar uma sinusite. A interação entre os medicamentos foi, literalmente, uma bomba para o meu corpo.

No meio desse caos, fui forçada a parar. Precisei ficar de cama por alguns dias, tentando me recuperar. E, nesse tempo em que o corpo enfraquece, a mente insiste em vagar. Me vi fazendo questionamentos um tanto filosóficos sobre quem eu sou e para onde estou indo.

Esse texto, aliás, nasceu sem muito propósito. Comecei a escrever com a esperança de que alguma inspiração surgisse e me desse um tema central. A verdade é que senti apenas a necessidade de colocar tudo para fora — escrever como forma de alívio.

Estar doente na fase adulta, ao contrário do que se pensa, não é apenas desconfortável. É quase um filme de terror. Quando criança, ficar doente também era ruim, claro — mas havia algo de reconfortante na atenção que se recebia. Sempre fui uma criança invisível, daquelas que não causavam preocupação, que passavam despercebidas até na própria história. E, justamente por isso, às vezes até achava interessante esse momentâneo protagonismo causado por uma febre ou dor de garganta.

Hoje em dia, no entanto, tudo mudou. Ficar de cama é um tormento. Detesto ser o centro das atenções, tenho mil pendências para resolver, trabalhos da faculdade acumulando, provas chegando... sem falar que sou mãe solo. Parar simplesmente não é uma opção viável. Mas, como nem tudo está sob meu controle, me resta tentar me recuperar da melhor forma possível para que a vida volte a andar.

É impressionante como a gente só percebe o valor da saúde quando a perde. No ritmo acelerado do cotidiano, esquecemos o quanto é essencial simplesmente estar bem. Como dizem os mais velhos: só damos valor quando perdemos.

E, pensando bem, aqui está o tema deste texto: os desafios de estar doente na fase adulta e o valor que damos às coisas apenas quando elas nos faltam. Esse assunto daria um texto longo, cheio de reflexões existenciais, críticas sociais, talvez até com algumas frases motivacionais. Mas, sendo bem sincera, não tenho energia para tanto hoje.

É uma noite de segunda-feira. Ainda sinto dores até nas pontas dos dedos. Só quero voltar a me sentir bem.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Silêncios que gritam e também escrevem

Silêncios... Uma única palavra, mas que carrega um peso imenso sobre tudo o que eu vivo.

Às vezes, o silêncio não está nas coisas que deixamos de dizer. Ele se esconde, sutilmente, nas palavras que foram ditas — mas que carregam entrelinhas, ecos, e sentimentos mal disfarçados. Fico me perguntando com certa frequência: o que significa, de fato, um silêncio? E mais... onde é que eu deposito os meus silêncios?

Existe até uma piada interna sobre mim mesma: costumo dizer que minha mente nunca se cala. Em todos os momentos, há dez versões de mim coexistindo, cada uma gritando algo diferente, todas em desacordo, todas tentando assumir o controle. É engraçado... mas também é verdade.

Não existe silêncio dentro de mim. O meu silêncio é apenas a superfície. Lá dentro, tudo se movimenta, colide, questiona. Meu silêncio não é ausência — é disfarce.

Às vezes, me pergunto: como lidar com alguém que simplesmente não consegue se acalmar, que precisa de movimento constante, que nunca relaxa por completo? Essa pergunta me acompanha há anos — e, honestamente, ainda não encontrei a resposta.

O silêncio faz morada no meu exterior. Ele aparece nas observações que faço, na forma como me retraio, na maneira como fico quieta nos cantos. Mas não habita minha mente. Ali, tudo gira em desordem. Um eterno turbilhão de pensamentos que se atropelam, se enfrentam, se misturam.

Confesso: tenho medo do meu silêncio. Porque é justamente nesses momentos que me sinto mais caótica por dentro. Quando o mundo ao redor se cala, parece que tudo dentro de mim grita ainda mais alto.

Não sou — e talvez nunca tenha sido — alguém que se abre com facilidade. Em algum ponto da história deste blog, devo ter comentado como é difícil para mim mostrar o que realmente sinto. Sempre fui uma pessoa que fala muito... mas raramente digo o que está, de fato, dentro de mim.

Sei bem: os meus silêncios são gritos não gritados.

Talvez tudo isso não faça sentido. Talvez seja só mais uma tentativa de entender algo que nem eu mesma consigo explicar. Mas, curiosamente, há instantes em que encontro uma pequena pausa nesse ruído interno: quando escrevo, como agora. Ou quando escuto aquela música da minha banda favorita. É nesses momentos que uma espécie de calmaria me visita — mesmo que seja breve, mesmo que seja frágil. Um instante de paz numa mente tão amontoada.

Gostaria de dizer que essa tranquilidade também mora na minha casa. Mas, se existe um lugar que está longe de ser silencioso, esse lugar é o meu lar. Tudo ali é embaralhado, atravessado, confuso. Invejável é quem encontra no próprio lar um refúgio. A mim, resta procurar o silêncio em outros cantos — na escrita, na música, nos pensamentos que, vez ou outra, conseguem se alinhar.

E assim sigo: tentando fazer as pazes com os meus silêncios — os que falo, os que escondo e os que ainda estou aprendendo a escutar.