Dizem que, quando nasce uma criança, nasce também uma mãe. Mas o que raramente nos contam é que tornar-se mãe não significa, automaticamente, saber ser mãe. A maternidade não chega com manual, nem com respostas prontas. Ela se constrói no dia a dia, no improviso, na dúvida, no erro e na descoberta. É um caminho muitas vezes difícil — e, para algumas, até doloroso.
Eu ainda estou tentando entender o que significa ser mãe. Tive e ainda tenho, até certo ponto, o apoio da minha família. Mas esse apoio vem cheio de altos e baixos. É como se as pessoas que já passaram por esse processo — que já criaram seus filhos — acreditassem que sabem tudo, e que eu, por estar começando, não sou capaz de aprender por conta própria. Talvez elas saibam algumas coisas mesmo. Mas há outras que eu quero descobrir sozinha.
Tenho minhas ideias, opiniões e meu jeito... um pouco fora do comum. Nunca fui uma pessoa “normal” — seja lá o que isso signifique — e, por isso, nunca imaginei que seria uma mãe dentro dos padrões. Sempre quis ser uma mãe mais aberta, mais disponível, mas também alguém que respeita a individualidade da criança. Quero que minha filha descubra seus próprios gostos, suas próprias ideias, que se torne quem ela quiser ser.
Talvez eu pense assim porque não tive essa liberdade. Fui criada em um ambiente com regras rígidas, em que tudo era definido entre certo e errado com base em um contexto religioso. O certo era o que a igreja dizia; o errado era tudo que fugia disso. Cresci sem espaço para me descobrir, sem incentivo para me aceitar como sou. E, mesmo hoje, sendo uma mulher adulta, ainda é difícil lidar com os conflitos entre o que aprendi e o que realmente acredito.
Além disso, fui criada de forma extremamente dependente — e agora, dar meus próprios passos, criar minha filha com autonomia, tem sido um desafio imenso.
O que desejo para ela vai além de ensinar valores como caráter, compaixão e fidelidade. Quero que ela aprenda a se entender, a se descobrir, a se aceitar. Acima de tudo, quero que cresça livre e independente. E ainda assim, quero ser, enquanto eu viver, o porto seguro para o qual ela sempre poderá voltar.
Sei que tudo isso parece bonito — até meio poético ou brega — mas colocar em prática é outra história. Às vezes, me sinto perdida. Sou uma pessoa difícil, tenho meus limites, meus dias ruins, minhas palavras duras... e ainda moro na mesma casa que a minha mãe.
E esse é, talvez, um dos maiores desafios: ser mãe enquanto ainda sou filha. Na mesma casa. Sob o mesmo teto. Claro, minha mãe tem sua experiência, e não digo que ela tenha falhado — pelo contrário, reconheço o quanto ela foi, e ainda é, uma boa mãe. Mas eu quero criar minha filha do meu jeito. Da forma que considero justa, sensível, equilibrada. E não conforme o que os outros acham certo.
Eu não sei ser mãe. Mas quero aprender. Quero descobrir esse caminho dentro das minhas próprias ideias, das minhas crenças e da forma como vejo o mundo. Porque ninguém nasce sabendo. Descobrimos vivendo. E a maternidade é uma dessas jornadas avassaladoras — que nunca é igual para duas pessoas, nem para uma mesma mulher com filhos diferentes.
O que sei é que esse caminho pode ser cheio de surpresas. Lindo, transformador… e, ao mesmo tempo, profundamente doloroso.