Não que eu tenha um local para me abrigar, dinheiro suficiente para me manter ou um plano decente para que as coisas funcionem depois de fugir.
Mas do que eu estou fugindo? Fugindo das dificuldades? Fugindo de ser mãe? Fugindo de todas as escolhas ruins? Fugindo da doença? Fugindo do vazio ou de mim mesma?
Eu não sei bem do que eu estou fugindo. Talvez esse seja o momento ruim da minha vida, por isso essa necessidade tão avassaladora de fazer tudo o que está em mim desaparecer.
Ontem eu escutei de uma pessoa algo do tipo: "Quando atravesso uma fase ruim, me agarro à certeza de que tudo passa e que, em breve, uma fase boa vai chegar. Afinal, toda fase tem começo e fim, sejam elas boas ou ruins". Eu achei poético, achei uma forma interessante de se viver. De alguma forma, eu tento viver assim, mas eu não sei quando a minha fase ruim vai passar.
Eu era uma adolescente que pensava que alguém viria me salvar. Por muito tempo, esperei alguém vir me salvar. Pois bem, ninguém veio. Hoje eu sou uma adulta que tenta se salvar, mas não consigo.
Hoje eu olhei em volta, devo ter pouco mais de R$ 30 na minha conta, uma mochila com quase nada nas minhas costas. Com um cigarro na minha boca, pensei seriamente em virar daquelas mochileiras. Só sair por aí, fingir que não tenho problemas ou obrigações. Eu quero apagar e abafar, queria me sentir menos dolorida.
Eu estou aqui, desde sempre esperando a fase ruim passar. Já tentei de tudo para melhorar, mas sei lá quando eu tive uma fase boa... Não estou dizendo que todos os momentos foram especificamente tristes, já senti alguma felicidade, principalmente relacionada à minha filha. Mas, sendo bem sincera, ela é a única felicidade em mim. Não me lembro de algo que fosse feliz fora disso.
Estou tão farta disso, farta de acreditar que em algum momento vai melhorar, farta de ser tão gorda, farta de tentar, farta de estudar, farta de pensar que, se eu aguentar só mais um pouco, vai ficar bem. Talvez seja isso. Não vai melhorar. Talvez eu não volte mais aqui. Isso é uma despedida? Não sei, mas, se eu voltar, hoje eu não fugi. Hoje me deitei, ainda sentindo o vazio, e olhei em volta. Me convenci, de alguma forma, que tudo bem. Algum momento isso tudo acaba. De uma forma ou de outra, vai acabar.