terça-feira, 22 de julho de 2025

A gaveta dos projetos inacabados

Há quem diga que o maior obstáculo está no começo. Eu discordo. Começar, pra mim, nunca foi o problema. A dificuldade está em continuar.

Sou dessas pessoas que têm ideias em momentos aleatórios: no banho, na fila do mercado, no meio da aula. Ideias que parecem grandiosas, promissoras, até revolucionárias. Me empolgo. Crio pastas no computador. Dou nomes bonitos. Começo. Às vezes, até com pompa. Mas, com o tempo, aquela faísca inicial vai se apagando, silenciosa e persistente, como uma vela que queima devagar até se entregar. E o projeto? Vai parar na tal gaveta.

Sim, eu tenho uma gaveta — não de madeira, mas digital — cheia de planos que não viraram realidade. Alguns morreram no primeiro esboço. Outros, resistiram algumas semanas. Todos têm algo em comum: a sensação incômoda de que poderiam ter sido alguma coisa. Algo útil, bonito, talvez até necessário. Mas estão lá, mofando em silêncio.

Eu sei que isso não é normal. Ou talvez seja, vai saber. Só sei que esse ciclo de começar e abandonar já virou um velho conhecido. Já pensei até em terapia — e não foi uma vez só. O curioso é que, enquanto falho comigo, nunca falho com os outros. Trabalho em grupo? Eu me entrego. Faço acontecer. Não deixo ninguém na mão. Mas quando o projeto é só meu, algo trava. A prioridade some. E o compromisso vira um rascunho esquecido.

Outro dia me peguei pensando em como, mesmo com esse comportamento errático, estou conseguindo levar a faculdade. Me surpreendo com isso. Talvez porque lá o compromisso seja “oficial”, com prazos, provas e cobranças externas. Aqui, no meu mundo particular, a cobrança é só minha. E, ironicamente, eu não me levo tão a sério.

Aliás, se estou escrevendo isso agora, é porque estou — adivinhe — começando um novo projeto pessoal. Quer dizer, recomeçando. Tentando resgatar algo antigo e fazer funcionar de um jeito novo. Já me bate aquele medo conhecido: e se, daqui a pouco, eu desistir de novo? E se mais uma ideia for parar na gaveta?

Talvez esse texto seja meu jeito de tentar escapar do ciclo. De me lembrar, no futuro, que eu estive aqui. Que comecei mais uma vez. Que me importei o suficiente para registrar. Vai que, ao reler estas palavras em um momento de desânimo, eu encontre fôlego pra continuar.

Afinal, nem todo projeto precisa nascer pronto. Às vezes, tudo o que ele precisa é de alguém que insista um pouco mais.


Um comentário:

  1. Eu espero que consiga manter uma rotina saudável para organizar e dividir seu tempo e completar seus objetivos. Infelizmente essas coisas acontecem quando nós não priorizamos o que é nosso, a faculdade bagunça nossos sentidos. Às vezes eu me pego pensando que o que é meu pode esperar mais hoje ou amanhã... Mas é um tipo de auto sabotagem. O que é nosso é prioridade. Deve ser.

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