sábado, 13 de dezembro de 2025

Guardado

Mantenho meus relatos silenciosos nesta página perdida da internet.

Tornou-se como um segredo protegido. Não que eu esteja lutando para manter meus desabafos escondidos, apenas sinto que mantê-los guardados do meu mundo real me traz um sabor diferente.

Os últimos dias do ano têm sido meio sufocantes para mim. Espero voltar umas duas ou três vezes, talvez postar sobre um ensaio pessoal ou mais algum relato aleatório — provavelmente a segunda opção.

Enfim, tenho vivido dias estranhos, atravessados por um caos interno. Uma roleta de decisões pula à minha frente, e eu tento entender qual caminho tomar.

Há muito tempo escrevi sobre minhas mirabolantes ideias de projetos. Alguns apenas dormiram, para que possam se tornar mais desenvolvidos, e ainda permanecem dentro da minha mente. Outros eu simplesmente matei, pois não condiziam com a pessoa que me tornei.

Este não será um dos meus textos extensos, mas é divertido, para mim, escrever pouco. Não escrevo para mostrar destreza — que não tenho — com as palavras; escrevo para expor minha alma.

Nessas poucas linhas, expus muito sobre mim. Parece pouco, mas é isso que estou vivendo: muito pouco.

Ainda quero postar uma ou duas coisas antes do final deste ano, mas talvez eu suma por aqui e demore para retornar…

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Dezembro e seu inevitável caos.

Cada mês do ano transmite uma sensação própria, quase como uma atmosfera que se encaixa nas realidades pessoais. Fevereiro, por exemplo, carrega a ousadia do carnaval, o calor do verão e as praias abarrotadas. Maio remete à maternidade e às celebrações dedicadas às mães. Há também as datas individuais, aquelas que marcam eventos importantes na vida de cada um.

Boa parte dessas sensações, no entanto, foi apropriada e mercantilizada pelo comércio, que estimula o consumo e garante o constante escoamento de produtos.

Dezembro, por sua vez, é intenso. Suas representações são diversas: a correria do fim de ano, as jornadas de trabalho sem pausa, o fluxo econômico acelerado, os ajustes das finanças e as clássicas comemorações de Natal e Ano-Novo. O último mês do ano simboliza união familiar, encerramento de ciclos e o planejamento de uma nova jornada.

Talvez por isso seja um período em que muitas pessoas fazem um balanço da própria vida — conquistas e fracassos, planos e metas, caminhos percorridos. Para alguns, esse processo é grandioso; para outros, é um verdadeiro caos.

Curioso notar como, em dezembro, fala-se muito sobre a força das celebrações e a sensação de recomeço, mas pouco se discute sobre os sentimentos íntimos — e por vezes negativos — que essa época também desperta. Arrisco dizer que, para muitos, dezembro é um pesadelo silencioso.

Há solidão, receio e, às vezes, medo. A reclusão se torna companheira de alguns, porque a intensidade do mês é incômoda e escancara que nem tudo é festa e sucesso. Nem todos amam esse período, e isso precisa ser compreendido.

Eu mesma vivo uma relação de amor e ódio com as intensidades que dezembro traz. Houve momentos em que fui mais feliz nesse mês. Em contraste, também houve um dezembro em que finalizei um relacionamento extremamente tóxico — algo que, à época, eu não conseguia enxergar. Atualmente, dezembro tem sido um pesadelo pessoal, pois me traz a forte sensação de que falhei nos últimos anos: na carreira, na vida pessoal, como filha e como mãe. O fracasso é cruel, e é justamente em dezembro que ele parece pulsar mais forte.

Meu balanço pessoal é turbulento, e aos trinta anos eu gostaria de ter conquistado mais. Ainda assim, sigo aqui. Não desprezo minha trajetória e reconheço as limitações que me impediram de caminhar no mesmo ritmo que outras pessoas, mas, às vezes, é exaustivo lidar com esse sentimento. Talvez eu esteja cobrando demais de mim mesma — talvez seja apenas isso.

Ao analisar tudo isso, percebo que dezembro está longe de ser apenas um mês comum. Existe um conceito por trás dele, uma narrativa e um simbolismo — comercial, pessoal ou religioso — que nenhuma outra época do ano possui. Dezembro é, inevitavelmente, um caos.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O turbilhão que precede a calmaria

Às portas do final de ano, sem saber exatamente como lidar com a vida e procurando um meio de me manter de pé, venho em mais um texto para comentar sobre as coisas.

Sinto uma forte sensação de que estou prestes a fazer as coisas andarem. Não sei, apenas sinto. Gosto de pensar que, no meio desse mar caótico, vou encontrar uma saída. Tenho me agarrado a esse pensamento.

Devo assumir que, neste momento, as coisas estão bagunçadas e parte de mim está sem rumo. Tudo bem — eu acredito no voto de fé que dei a mim mesma.

Grande parte das decisões que tomei ao longo da vida foi movida pelo impulso. Desta vez, não foi o impulso. Eu me sentei e pensei em cada passo. Entendo que nem sempre as coisas saem exatamente como planejamos, e estou preparada para as dificuldades também.

Posso dizer que estou vivendo um dia de cada vez. Mesmo me sentindo perdida e, às vezes, sem saber como continuar. Toda essa parte conturbada que os começos possuem é exatamente o que imaginei que seria. Eu me preparei para o caos inicial — e sigo, mesmo aos tropeços, eu sigo.

É confortante para a minha mente conseguir seguir. Até pouco tempo atrás, eu tinha poucas esperanças; minha saúde estava um caco e meu emocional, devastado. Era como se não houvesse salvação. Agora estou me salvando — e me orgulho desse mérito.

Este texto possui uma serventia única. Não para que outros o leiam, mas para mim mesma. No futuro, quando eu estiver fuçando os textos do passado, vou encontrar este. E quando isso acontecer, espero sorrir e me orgulhar, porque mesmo com todas as dificuldades, mesmo quando quase desisti de mim, pude achar uma solução e, no meio da bagunça que minha vida era, renasci.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Ponto

Eu não sou do tipo comunicativa.

Quero dizer, não me abro para falar sobre os meus sentimentos, mas sou capaz de desmembrar assuntos aleatórios, como construções e decorações, economia e taxas de juros, literatura e artes. Aleatoriedades, mas sem de fato expressar meu eu interno.

É assim que eu sou: uma pessoa com uma imensa redoma de vidro em volta do meu eu, uma redoma empoeirada que deixa transparecer apenas uma pequena parte de quem sou, mas nunca o suficiente para me mostrar por completo.

Confesso que viver dessa maneira é cansativo. Hoje em dia, pelo menos, é muito cansativo; no passado era mais fácil. A questão é que, no início, eu apenas escondia — sempre foi parte da minha personalidade ser introvertida.
O tempo, porém, se mostrou um grande inimigo, porque as coisas começaram a se acumular, o peso foi aumentando, e então eu me tornei como um cano frágil que precisa aguentar uma pressão intensa de água: cheia de vazamentos que eu continuamente tento remendar.

Eu não consigo me consertar, pois isso significaria quebrar minha redoma, me expor ao mundo e, consequentemente, ser mais vulnerável perante ele.
Continuo, então, vivendo e convivendo com o cansaço de me remendar e conter, por alguns instantes, os meus vazamentos.

É incrivelmente interessante como a maioria das pessoas não percebe. Eu vivo numa constante luta interna e quase ninguém se dá conta. Talvez eu seja uma atriz capaz de atuar com perfeição, ou talvez as pessoas percebam que sou estranha, porém simplesmente não se importem.
Não sei bem o que pensar; são duas possibilidades interessantes, com críticas enraizadas, e as duas podem acontecer ao mesmo tempo. Mas não quero me alongar nessa ideia.

O que eu quero? Eu quero me sentir livre!
Não desejo estar dentro de uma redoma. Desejo não precisar me remendar, mas sim um conserto duradouro. Desejo não mais atuar.

Provavelmente este é um dos textos mais profundos e viscerais que já escrevi sobre mim, sem muito vitimismo. Estou feliz em saber que ainda posso me descrever sem a sensação de que estou chorando. Esta sou apenas eu, e ponto.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Estou soltando a corda

Não vivo a vida que escolhi, não degusto a comida que comprei e muito menos desfruto da água ou da energia que paguei. Muito pelo contrário: sinto-me como uma exploradora de vidas alheias.
Estou nessa jornada há algum tempo e nunca esperei que fosse um caminho fácil; me preparei desde o início. Mas aqui estou eu, me entregando. Algumas pessoas vão me perguntar: Por que você está desistindo? Bem, soltar a corda não é simples, e existem camadas por trás dessa decisão.

Este texto é mais um dos meus desabafos e, como já mencionei em vários outros, minha vida é monótona, sem graça, e eu apenas sobrevivo às decisões que terceiros tomam por mim.
Caí na ilusão de sair do meu antigo trabalho para “me concentrar nos estudos”, enquanto sou sustentada. Confesso que o emprego era explorador, mas ainda assim eu conseguia uns trocados para comprar o básico — agora nem isso tenho mais. Não possuo roupas inteiras; a maioria está surrada ou rasgada. Meu celular está prestes a parar de funcionar a qualquer momento, e não é que eu queira o aparelho da última moda — só quero um meio de me comunicar. Não tenho dinheiro para meus remédios e vivo como uma sanguessuga.

Sei que as pessoas podem questionar o fato de eu viver assim, mas ao menos consegui investir nos estudos. Mais uma cilada. Se eu soubesse que a faculdade não me daria qualquer suporte ao destrancar o curso, nem teria voltado. Sou obrigada a cursar cerca de oito disciplinas por semestre, praticamente em horário integral, o que torna impossível conseguir até mesmo um estágio.

Já é complicado o suficiente viver nesse marasmo, consumida pela saúde instável, pela sensação de fracasso e nocauteada pela graduação. E então vem a pessoa que deveria ser minha base — todos os dias tem algo negativo a dizer sobre minha personalidade ou sobre os erros que cometi e, sempre que pode, me relembra que sou um peso. Tudo isso foi se tornando uma grande massa dentro de mim, algo agarrado na minha garganta. Meu corpo vacila a cada dia e tudo o que sinto é uma tristeza intensa.

Eu não quero mais viver à sombra de outra pessoa. Quero minhas próprias decisões. Estou soltando a corda. Deixando para trás aquilo que me machuca e buscando um novo começo — um lugar onde eu pare de me guiar pelas escolhas alheias e possa, finalmente, ser eu mesma.

Tenho plena consciência de que não será fácil, até porque caminhos fáceis não existem. Toda jornada possui seus desafios. Eu tenho medo do que me aguarda, mas não tenho mais medo de decisões ruins. A essa altura da minha vida, depois de tanta escolha equivocada, bem… mais uma não será o meu fim. O que eu quero agora é a liberdade de ser líder da minha própria vida, e não o fardo de alguém. 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Pertencimento: mais do que um conceito acadêmico

Recentemente, me vi realizando uma extensa e longa pesquisa sobre o conceito de pertencimento para elaborar um trabalho da faculdade. Depois de um bom tempo mergulhada no assunto, senti necessidade de falar mais sobre o tema, porém adicionando minhas opiniões pessoais, já que, para a faculdade, o texto precisa ser limpo. Então, hoje vou escrever sobre algo que não estou acostumada a colocar por aqui.

Primeiramente, precisamos entender que o pertencimento está profundamente ligado à nossa natureza social e que somos seres dependentes da interação com outras pessoas a partir do momento em que nascemos. Desde os primórdios dos tempos, existe a necessidade de estar inserido em algum grupo, pois isso era uma questão de sobrevivência. O indivíduo que fazia parte de um bando possuía maiores chances de sobreviver e experimentava um sentimento de segurança, enquanto aquele que era excluído ou rejeitado não possuía.

O conceito de pertencimento é algo extremamente amplo, que poderia ser desenvolvido em um texto muito extenso, mas um artigo específico me chamou a atenção, principalmente por abordar alguns caminhos que podem parecer óbvios, mas aos quais acho que as pessoas não se atentam tanto (vou deixar a referência com o link do artigo ao fim do texto). No artigo, o autor fragmenta o pertencimento em três dimensões principais.

A primeira dimensão abordada é o pertencimento social, que é condicionado à inclusão dentro de estruturas coletivas, sejam elas nações, classes, culturas ou instituições. Dentro desse campo, é abordado como a modernidade e a pós-modernidade trouxeram novas premissas de exclusão e hierarquização. Também é defendido que pertencer não depende apenas de reconhecimento formal, mas também de aceitação simbólica dentro das normas culturais e políticas de cada comunidade.

Na segunda dimensão abordada, fala-se sobre o pertencimento corporal. Num primeiro momento, antes de ler o texto, acreditei que isso estava ligado a padrões estéticos, mas deparei com uma tese muito mais extensa. Esse vetor afirma que é o corpo que torna visível a posição do indivíduo dentro da sociedade, definindo as chances de inclusão conforme raça, gênero, deficiência, geração e sexualidade.

E, por fim, temos o pertencimento afetivo e existencial. É dentro dessa dimensão que se aborda o pertencimento como disposição emocional e sentido de vida, afirmando que ele é sustentado por quatro necessidades humanas (propósito, eficácia, valor moral e autoestima). A ausência de pertencimento, causada por rejeição ou exclusão, desestabiliza o sentido existencial e gera sofrimento.

Bom, não preciso nem mencionar que isso é só um resumo extremamente superficial do que é abordado no artigo, porém recomendo a leitura.
Claro que sou bastante leiga nesse campo — curso Administração, e não Psicologia —, mas achei muito interessante a forma como o assunto foi abordado e as comparações com a literatura feitas ao longo do texto.

Parte de mim se enxerga um pouco nesses conceitos e na forma como lido com a vida. Ultimamente, tenho me sentido constantemente isolada e depressiva, então realizar esse trabalho na faculdade tem sido uma via de mão dupla, tanto para me dar uma nota quanto para que eu possa lidar com os meus problemas relacionados a isso.

Bom, essa é minha extensa opinião, e sei que o texto ficou muito maior do que eu pretendia, mas me senti feliz em colocar algo tão diferente e não as mesmas palavras de sofrimento com que costumo encher este blog.

Referência:
MATHIAS, Dionei. Pertencimento: discussão teórica. SciELO Brasil, 28 abr. 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/alea/a/5j8SHLFb5zy65tR5s5fjpSy/?format=html&lang=pt. Acesso em: 30 out. 2025.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Eu, o fardo

Considero-me um fardo. Algo pesado, difícil de carregar, uma escolha que as pessoas não fazem porque querem, mas porque foram forçadas.

Talvez eu seja como um fardo de algodão: seco, é leve; mas, molhado, torna-se pesado e muito mais difícil de sustentar.

Seca sou eu, o eu que tenta não ser tão complicado, o eu que busca algo melhor, o eu que, por mais problemática que seja a própria vida, gosta de ver as pessoas ao redor um pouco mais felizes. É essa a versão de mim que tenta tornar o fardo que sou mais leve,  a minha versão limpa.

Molhada é a versão cheia de traumas, a versão deprimida, que entra em crises, que não consegue arrumar um emprego, que observa tudo ao redor desmoronando e nada consegue fazer para melhorar. Uma versão bolorenta, podre e fétida.

Um fardo é um fardo, seja de algodão seco, de lavanda ou até mesmo de mel. Nada é possível fazer para que um fardo deixe de ser fardo. Ele simplesmente é.

Eu gostaria de não ser o fardo. Gostaria de ser a brisa limpa e fresca da primavera, de ser tinta aquarela sobre um quadro, ou palavras que carregam boas notícias. Mas eu sou ventania gelada, sou bolor nas paredes e poema triste. Eu sou um fardo.

No início, quando me dei conta do que eu era, fiz absolutamente de tudo para mudar. Ser o que sou me entristece, me causa revolta e desconforto. Porém, eu sempre tomava decisões impensadas e erradas, causava problemas e deixava um rastro de caos. Então aceitei: sou difícil, pesada e tortuosa. Desde então, faço o possível para ser um fardo menos pesado, mesmo sabendo que nunca deixarei de ser um.

Tento todos os dias ser brisa leve, algodão seco e lavanda. Tento melhorar, tomar decisões mais sábias, ser boas notícias e mel.

Acho que é isso que eu sou: um fardo que tenta ser menos fardo, mesmo que isso seja extremamente difícil. Talvez, algum dia, eu deixe de ser um fardo para as pessoas. Serei apenas o fardo que a terra consome, até que, enfim, nada mais eu serei.