Cada mês do ano transmite uma sensação própria, quase como uma atmosfera que se encaixa nas realidades pessoais. Fevereiro, por exemplo, carrega a ousadia do carnaval, o calor do verão e as praias abarrotadas. Maio remete à maternidade e às celebrações dedicadas às mães. Há também as datas individuais, aquelas que marcam eventos importantes na vida de cada um.
Boa parte dessas sensações, no entanto, foi apropriada e mercantilizada pelo comércio, que estimula o consumo e garante o constante escoamento de produtos.
Dezembro, por sua vez, é intenso. Suas representações são diversas: a correria do fim de ano, as jornadas de trabalho sem pausa, o fluxo econômico acelerado, os ajustes das finanças e as clássicas comemorações de Natal e Ano-Novo. O último mês do ano simboliza união familiar, encerramento de ciclos e o planejamento de uma nova jornada.
Talvez por isso seja um período em que muitas pessoas fazem um balanço da própria vida — conquistas e fracassos, planos e metas, caminhos percorridos. Para alguns, esse processo é grandioso; para outros, é um verdadeiro caos.
Curioso notar como, em dezembro, fala-se muito sobre a força das celebrações e a sensação de recomeço, mas pouco se discute sobre os sentimentos íntimos — e por vezes negativos — que essa época também desperta. Arrisco dizer que, para muitos, dezembro é um pesadelo silencioso.
Há solidão, receio e, às vezes, medo. A reclusão se torna companheira de alguns, porque a intensidade do mês é incômoda e escancara que nem tudo é festa e sucesso. Nem todos amam esse período, e isso precisa ser compreendido.
Eu mesma vivo uma relação de amor e ódio com as intensidades que dezembro traz. Houve momentos em que fui mais feliz nesse mês. Em contraste, também houve um dezembro em que finalizei um relacionamento extremamente tóxico — algo que, à época, eu não conseguia enxergar. Atualmente, dezembro tem sido um pesadelo pessoal, pois me traz a forte sensação de que falhei nos últimos anos: na carreira, na vida pessoal, como filha e como mãe. O fracasso é cruel, e é justamente em dezembro que ele parece pulsar mais forte.
Meu balanço pessoal é turbulento, e aos trinta anos eu gostaria de ter conquistado mais. Ainda assim, sigo aqui. Não desprezo minha trajetória e reconheço as limitações que me impediram de caminhar no mesmo ritmo que outras pessoas, mas, às vezes, é exaustivo lidar com esse sentimento. Talvez eu esteja cobrando demais de mim mesma — talvez seja apenas isso.
Ao analisar tudo isso, percebo que dezembro está longe de ser apenas um mês comum. Existe um conceito por trás dele, uma narrativa e um simbolismo — comercial, pessoal ou religioso — que nenhuma outra época do ano possui. Dezembro é, inevitavelmente, um caos.