quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Eu...

Eu sou tantas, e ao mesmo tempo, sou uma só. Sou variável, sou pequena, sou única — e, ainda assim, não sou ninguém…
Posso estar aqui, na sua frente, olhando nos seus olhos e, ao mesmo tempo, não estar. Porque também estou do outro lado do mundo. Assim como posso estar a milhas de distância do contato físico, mas, em minha mente, alma e coração, nós estamos unidos.
Houve um tempo em que eu queria ser apenas uma, porque ser várias dentro de uma só é cansativo. Encontrar-me e compreender cada uma das versões que habitam em mim é um trabalho árduo. Então, anos atrás, quando eu ainda não compreendia o poder que isso me dava, eu me perdia — porque, às vezes, encontrar-se é difícil.
Quando eu desejava ser uma só, presa naquele ciclo infinito de me perder e não saber como me reencontrar, também enfrentava uma crise de aceitação. Ser tantas e, ao mesmo tempo, não ser nenhuma me levava a colapsos internos, a momentos intensos de conflito com minha própria identidade. Existem passagens da minha vida das quais me lembro com certo embaraço. Lembro-me de papéis tristes que desempenhei, situações em que me humilhei apenas para ser aceita. E há uma parte de mim que não se orgulha desses momentos. Mas o tempo foi justo. Essas experiências me ensinaram. Elas me prepararam para que eu aprendesse a me aceitar e a entender que não há nada de errado em ser multifacetada.
Ao longo de todo o caminho da auto aceitação, aprendi que o ser humano não foi feito para viver sozinho e que há, dentro de nós, uma necessidade natural de convivência em comunidade. Ainda que eu acredite que as pessoas devem colaborar para que as coisas funcionem bem, e que eu mantenha certo grau de interação social com aqueles que me cercam, ainda assim, muitas vezes, me sinto como uma ilha no meio do oceano — solitária e deserta.
Na trajetória que tenho percorrido e nos valores que abracei ao longo da vida, nunca encontrei um lugar ou uma comunidade que me proporcionasse um verdadeiro sentimento de pertencimento. Com toda a sinceridade do meu coração, apesar de, às vezes, desejar um ombro amigo, eu gosto da minha solitude. Aprendi a valorizá-la.
Hoje eu sei. Eu vejo. Eu valorizo. Eu entendo. Eu amo.
Sei que sou muitas em uma só. Vejo que isso tem seus dias bons e ruins. Valorizo minha solidão. Entendo o valor de ser quem sou. E amo me perder, só pelo prazer de, todos os dias, me reencontrar em uma versão diferente de mim mesma.
E, mesmo que eu me sinta sozinha, não me sinto triste. Porque eu me sinto bem. Eu me sinto eu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Retorno

Hoje eu retorno sem um assunto definido, apenas com a velha e boa vontade de me expressar. Sem um foco específico, venho contar um pouco sobre os últimos dias e acontecimentos. Não que alguém sinta falta do que escrevo sinceramente, não acredito que alguém vá gastar alguns minutos do próprio tempo lendo minhas palavras, mas eu sinto falta de escrever.

Enfim, depois do enorme drama que foi o meu último texto, é até surpreendente que eu, de fato, tenha voltado, e não "fugido para as colinas". Mas essa sempre fui eu: às vezes movida pela lógica, às vezes pelo drama, e às vezes não movida por nada... apenas existindo. Sinceramente, nem sei o que pensar ou opinar sobre essa pessoa que sou.

Falando sobre o meu lado dramático: a depressão sempre me esmagou. De alguma forma, sempre me senti muito quebrada, e esse é um dos motivos pelos quais não consigo dar continuidade à maioria das minhas metas. Mas, ainda assim, aqui estou eu. Confesso que, por vezes, tive dúvidas se conseguiria continuar, mas, de algum modo, me permiti seguir em frente. E sigo aqui.

Nas últimas semanas, tenho me dado a chance de repensar minhas escolhas. Já comentei diversas vezes que sou o tipo de pessoa que precisa de um propósito, de uma razão para seguir em frente. Mesmo que nem sempre eu vá até o fim, gosto de ter um objetivo, um ponto a ser alcançado. A graduação se tornou uma dessas metas. Tudo bem que, em meio às dificuldades, entre tropeços e momentos em que sinto vontade de abandonar tudo, ainda estou conseguindo e me orgulho disso.

Tenho passado também por uma fase em que preciso encontrar novas formas de "fazer dinheiro". Sinceramente, não faço ideia de como vou conseguir isso, principalmente porque minha rotina não me permite trabalhar formalmente. É desgastante não ter como me sustentar, então a busca por aprender a me manter virou uma necessidade real.

Acho que é isso que estou tentando dizer ou expressar, embora não esteja me saindo muito bem. Tenho vivido os meus dias apenas por viver. Sei que preciso aprender a estabelecer metas reais, possíveis de serem cumpridas, e não objetivos insanos e inalcançáveis. É estranhamente incômodo viver assim, porque estou fora do que acredito ser o certo. É doloroso uma sensação de extremo vazio continuar desse jeito.

E, apesar de ter voltado (ainda que parte de mim duvide dessa volta), me pergunto se realmente vale a pena continuar assim... e como posso fazer para encontrar ou construir um caminho mais digno e verdadeiro.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

E se eu fugisse?

Não que eu tenha um local para me abrigar, dinheiro suficiente para me manter ou um plano decente para que as coisas funcionem depois de fugir.

Mas do que eu estou fugindo? Fugindo das dificuldades? Fugindo de ser mãe? Fugindo de todas as escolhas ruins? Fugindo da doença? Fugindo do vazio ou de mim mesma?

Eu não sei bem do que eu estou fugindo. Talvez esse seja o momento ruim da minha vida, por isso essa necessidade tão avassaladora de fazer tudo o que está em mim desaparecer.

Ontem eu escutei de uma pessoa algo do tipo: "Quando atravesso uma fase ruim, me agarro à certeza de que tudo passa e que, em breve, uma fase boa vai chegar. Afinal, toda fase tem começo e fim, sejam elas boas ou ruins". Eu achei poético, achei uma forma interessante de se viver. De alguma forma, eu tento viver assim, mas eu não sei quando a minha fase ruim vai passar.

Eu era uma adolescente que pensava que alguém viria me salvar. Por muito tempo, esperei alguém vir me salvar. Pois bem, ninguém veio. Hoje eu sou uma adulta que tenta se salvar, mas não consigo.

Hoje eu olhei em volta, devo ter pouco mais de R$ 30 na minha conta, uma mochila com quase nada nas minhas costas. Com um cigarro na minha boca, pensei seriamente em virar daquelas mochileiras. Só sair por aí, fingir que não tenho problemas ou obrigações. Eu quero apagar e abafar, queria me sentir menos dolorida.

Eu estou aqui, desde sempre esperando a fase ruim passar. Já tentei de tudo para melhorar, mas sei lá quando eu tive uma fase boa... Não estou dizendo que todos os momentos foram especificamente tristes, já senti alguma felicidade, principalmente relacionada à minha filha. Mas, sendo bem sincera, ela é a única felicidade em mim. Não me lembro de algo que fosse feliz fora disso.

Estou tão farta disso, farta de acreditar que em algum momento vai melhorar, farta de ser tão gorda, farta de tentar, farta de estudar, farta de pensar que, se eu aguentar só mais um pouco, vai ficar bem. Talvez seja isso. Não vai melhorar. Talvez eu não volte mais aqui. Isso é uma despedida? Não sei, mas, se eu voltar, hoje eu não fugi. Hoje me deitei, ainda sentindo o vazio, e olhei em volta. Me convenci, de alguma forma, que tudo bem. Algum momento isso tudo acaba. De uma forma ou de outra, vai acabar.

terça-feira, 22 de julho de 2025

A gaveta dos projetos inacabados

Há quem diga que o maior obstáculo está no começo. Eu discordo. Começar, pra mim, nunca foi o problema. A dificuldade está em continuar.

Sou dessas pessoas que têm ideias em momentos aleatórios: no banho, na fila do mercado, no meio da aula. Ideias que parecem grandiosas, promissoras, até revolucionárias. Me empolgo. Crio pastas no computador. Dou nomes bonitos. Começo. Às vezes, até com pompa. Mas, com o tempo, aquela faísca inicial vai se apagando, silenciosa e persistente, como uma vela que queima devagar até se entregar. E o projeto? Vai parar na tal gaveta.

Sim, eu tenho uma gaveta — não de madeira, mas digital — cheia de planos que não viraram realidade. Alguns morreram no primeiro esboço. Outros, resistiram algumas semanas. Todos têm algo em comum: a sensação incômoda de que poderiam ter sido alguma coisa. Algo útil, bonito, talvez até necessário. Mas estão lá, mofando em silêncio.

Eu sei que isso não é normal. Ou talvez seja, vai saber. Só sei que esse ciclo de começar e abandonar já virou um velho conhecido. Já pensei até em terapia — e não foi uma vez só. O curioso é que, enquanto falho comigo, nunca falho com os outros. Trabalho em grupo? Eu me entrego. Faço acontecer. Não deixo ninguém na mão. Mas quando o projeto é só meu, algo trava. A prioridade some. E o compromisso vira um rascunho esquecido.

Outro dia me peguei pensando em como, mesmo com esse comportamento errático, estou conseguindo levar a faculdade. Me surpreendo com isso. Talvez porque lá o compromisso seja “oficial”, com prazos, provas e cobranças externas. Aqui, no meu mundo particular, a cobrança é só minha. E, ironicamente, eu não me levo tão a sério.

Aliás, se estou escrevendo isso agora, é porque estou — adivinhe — começando um novo projeto pessoal. Quer dizer, recomeçando. Tentando resgatar algo antigo e fazer funcionar de um jeito novo. Já me bate aquele medo conhecido: e se, daqui a pouco, eu desistir de novo? E se mais uma ideia for parar na gaveta?

Talvez esse texto seja meu jeito de tentar escapar do ciclo. De me lembrar, no futuro, que eu estive aqui. Que comecei mais uma vez. Que me importei o suficiente para registrar. Vai que, ao reler estas palavras em um momento de desânimo, eu encontre fôlego pra continuar.

Afinal, nem todo projeto precisa nascer pronto. Às vezes, tudo o que ele precisa é de alguém que insista um pouco mais.


segunda-feira, 14 de julho de 2025

O acolhimento ofertado pelas máquinas

Recentemente, eu estava bem estressada, com muitas coisas na cabeça. E, de repente, senti uma necessidade urgente de conversar, de desabafar de alguma forma. Não tinha ninguém com quem sentar e dividir aquilo, e mesmo que tivesse, eu não sou muito de me abrir com facilidade. Então, cometi uma das maiores "atrocidades terapêuticas" da atualidade: escrevi um texto repleto de desabafos super pessoais e o coloquei numa Inteligência Artificial. Para minha surpresa, recebi uma resposta boa, acolhedora, sem julgamentos, que de alguma forma aliviou o peso daquele estresse pulsante.

Foi estranho. Me senti como nos filmes de ficção científica, em que as máquinas começam a substituir os humanos. Mas, ao mesmo tempo, fiquei preocupada e sem entender muito bem o que estava acontecendo. Talvez o meu desespero por um acolhimento rápido tenha sido o gatilho para eu buscar consolo em algo tão impessoal. Um texto tão pessoal, algo que com certeza eu nunca mostraria a ninguém, estava ali, em uma IA. Isso me fez perceber, de uma forma um tanto desconcertante, o quanto eu estava "desesperada" a ponto de pedir socorro a uma máquina.

E então veio a segunda preocupação: o que acontece com os textos pessoais que são publicados para uma IA? Será que alguém lê? Fica arquivado? Ou simplesmente é deletado, como se nunca tivesse existido? Eu, com minha curiosidade habitual, fui pesquisar sobre o assunto e descobri algumas coisas interessantes sobre o uso da IA como ferramenta terapêutica nos dias de hoje.

É claro que a Inteligência Artificial foi criada para realizar tarefas técnicas, principalmente no ambiente de trabalho. No entanto, no último ano, com a popularização dessas ferramentas, vimos uma expansão enorme do seu uso — seja para trabalhos acadêmicos, seja para criar imagens, organizar tarefas diárias ou até mesmo realizar pesquisas simples (afinal, quem nunca abriu a IA em vez de pesquisar no Google?). Com esse crescimento, não seria surpresa que as IAs também começassem a ser usadas em áreas psicológicas, e, de fato, já existem muitas pessoas que utilizam essas ferramentas como suporte terapêutico.

Li que alguns optam pela IA por diversos motivos. A principal delas é a disponibilidade 24 horas por dia. Além disso, a IA não julga o desabafo sincero, oferece conselhos que podem ser estimulantes e, claro, envolve um custo bem mais baixo.

Apesar de eu ter cometido esse "absurdo", acredito que não precisa nem ser dito o quão problemático pode ser substituir uma terapia convencional — com um profissional real, que estudou para estar ali, pronto para dar o apoio adequado — pela chamada "terapia virtual". Eu sou totalmente contra essa substituição. O psicólogo real não pode ser substituído por máquinas, que, em sua maioria, oferecem respostas pré-fabricadas e, no máximo, fazem pequenas alterações de palavras para que a resposta não soe tão robótica. É claro que sempre vamos encontrar profissionais ruins em qualquer área, e isso também acontece na psicologia. Por isso, é importante buscar referências e escolher com cuidado o profissional com quem vamos trabalhar.

No entanto, não quero terminar esse pensamento apenas criticando as IAs. Acredito que elas são ferramentas poderosas e valiosas, que, se usadas corretamente, podem ser de grande ajuda. Eu mesma as utilizo bastante, especialmente para trabalho e estudos. Tenho uma visão bem pragmática: tudo o que foi criado para ajudar pode ser muito útil, desde que seja usado de forma responsável. Mas, se você usar a IA apenas por preguiça, está apenas se tornando mais um alienado, escapando do esforço real de aprender, refletir e, principalmente, se conectar com outras pessoas.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Definição de Sozinho

Abro, mais uma vez, o aplicativo de relacionamentos — esse hábito quase automático que insiste em me lembrar que há algo fora do meu controle: o tempo passando, as pessoas se encontrando, e eu... bem, eu ainda aqui. Sozinha.

"Qual é, afinal, a definição de 'sozinho'?" — pergunto em silêncio, mas a dúvida pulsa alto demais. Não resisto e digito no buscador, como se o dicionário pudesse me oferecer algum consolo:

Sozinho – adj.
Absolutamente só. Isolado de tudo. Sem companhia. Acompanhado de apenas uma outra pessoa. Que não conta com auxílio material ou moral de ninguém. Não ajudado por ninguém. Que é único. Consigo mesmo.

Consigo mesmo.
Essa parte me pega.
Ser sozinho é ser... consigo mesmo?

Sento para escrever algo — talvez um texto, um desabafo, um pedaço de mim. Tento transformar essa solidão em força, em manifesto. Começo com a velha ideia de liberdade: a delícia de não ter que dar satisfações a ninguém, de poder ir e vir, de viver por si. Um egoísmo quase charmoso, desses que a gente aprende a defender como liberdade. Mas a verdade, mesmo que a contragosto, escapa entre os dedos: a solidão tem dias bons, sim, mas há noites em que tudo que eu queria era encostar a cabeça no ombro de alguém. Só isso. Não um grande amor, não um enredo cinematográfico. Apenas um silêncio compartilhado.

Não é desespero. É cansaço.

O problema é que minha única experiência de amor foi um naufrágio. Tóxico. Abusivo. Um amor que se disfarçava de necessidade, que me dopava com mentiras e me fazia acreditar que minha existência era pequena demais pra caber sozinha. Um amor que me ensinou a duvidar de mim. E como esquecer isso? Como confiar de novo quando tudo que se lembra é o gosto amargo de ser manipulada?

O tempo passou, é verdade. Mas a voz interna ainda cochicha que eu não sou digna de amor. Que não há nada em mim que valha ser escolhido. E quando, por acaso, alguém se aproxima, é como se um alarme disparasse. Me escondo no papel de amiga, fujo antes que algo floresça. Finjo indiferença — é mais seguro assim.

Às vezes me pergunto se essa vai ser minha história. Se é isso que sobrou pra mim: viver sozinha. E então, quase como uma resposta tardia, uma centelha acende. Talvez não seja uma sentença. Talvez seja só uma fase. Uma travessia. E quem sabe, sem eu perceber, alguém chegue. Não como salvador, mas como companhia. Alguém que escolha caminhar ao meu lado, e não me empurrar para o fundo.

Mas aí vem a realidade crua: já se vão quase seis anos solteira. Relações rápidas, passageiras, encontros que duram uma noite e somem pela manhã. Onde está o futuro nisso? Como reconhecer o que é real quando tudo se desfaz antes mesmo de começar?

Respiro fundo.

A verdade é que estou aqui. Sozinha. No sentido mais completo da palavra. E talvez seja hora de aceitar isso com menos drama e mais honestidade. Este é meu momento, minha versão de agora. Não preciso me punir pelo passado nem me apressar por um futuro que não chegou. Preciso apenas viver — um dia de cada vez — e parar de esperar que alguma parte da minha solidão seja resgatada por outro alguém.

Só que, cá entre nós, esse debate interno é cansativo. Quase cômico, se não fosse tão real. Preciso trabalhar, tenho coisas pra fazer, e essa conversa fora de hora na minha cabeça não ajuda em nada.

Chega. Silêncio.

Por hoje, viver basta.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Nunca houve nada de errado comigo

Esse texto é dedicado à minha pequena eu.
Para uma menina de 7 ou 8 anos que vivia sozinha, não sabia fazer amigos, sofria bullying e acreditava que havia algo de errado com ela.

Pequena eu, o mundo sempre foi duro com quem, de alguma forma, está fora da curva. Você não tinha — e nunca teve — nada de errado. Se hoje, com 30 anos, eu tivesse o poder de voltar no tempo, te abraçaria forte e diria o quanto você sempre foi incrível. O quanto você foi forte. E o quanto, hoje, eu tenho orgulho de você.

Pode parecer estranho começar assim...
Bom, eu sempre deixei claro que sou uma pessoa fora do padrão. Nunca sei o que é certo dizer, não sei como devo me comportar, odeio contato físico e, às vezes, travo verdadeiras lutas internas entre o que penso, o que me ensinaram e no que realmente acredito.

Nunca foi fácil ser a criança diferente. Eu precisei, sozinha, observar ao redor, analisar o comportamento esperado e imitá-lo — só assim eu conseguia me encaixar minimamente no que a sociedade pedia. Mas me encaixar socialmente não significa que minha mente se encaixava. Essas batalhas internas são silenciosas, mas profundas... e costumam deixar marcas em quem luta.

E eu ainda carrego essas marcas. Algumas eu tatuei por cima. Ao olhar para elas, sinto um misto de orgulho e tristeza. Orgulho, porque atravessei esse vale. Tristeza, pela dor que senti durante o caminho.

Ser quem eu sou ainda me confunde. Mesmo hoje, essa confusão permanece.
Eu quero — e sempre vou querer — ser quem realmente sou. Não quero mais olhar ao redor e imitar o que os outros fazem só para me encaixar. Claro, aprendi que certos comportamentos e falas podem soar ríspidos, duros ou até mal-educados. Mas eu não vou vestir a roupa da moda só para ser aceita. Não vou fingir que amo as músicas do momento só para ser convidada para festas.

Eu sou quem eu sou. Me visto para me sentir bem. Escuto o que me faz bem. E, dentro dos limites do respeito e da educação, me comporto de forma alinhada com o que me faz bem.

É verdade: anos fingindo me fizeram perder, por um tempo, o senso de quem eu era. Mas, hoje, mergulhada nessa aventura de autodescoberta, tenho me encontrado. Me entendo muito mais do que há alguns anos.

Pequena eu, você foi incrível.
E hoje, sendo eu mesma, encontrei amigos, encontrei roupas que amo, músicas que me representam...
Encontrei nós no meio do caos.

E está tudo bem em ser fora da curva.
Você — nós — nunca fomos padrão.
E a força que temos hoje é algo para se orgulhar.