terça-feira, 8 de julho de 2025

Definição de Sozinho

Abro, mais uma vez, o aplicativo de relacionamentos — esse hábito quase automático que insiste em me lembrar que há algo fora do meu controle: o tempo passando, as pessoas se encontrando, e eu... bem, eu ainda aqui. Sozinha.

"Qual é, afinal, a definição de 'sozinho'?" — pergunto em silêncio, mas a dúvida pulsa alto demais. Não resisto e digito no buscador, como se o dicionário pudesse me oferecer algum consolo:

Sozinho – adj.
Absolutamente só. Isolado de tudo. Sem companhia. Acompanhado de apenas uma outra pessoa. Que não conta com auxílio material ou moral de ninguém. Não ajudado por ninguém. Que é único. Consigo mesmo.

Consigo mesmo.
Essa parte me pega.
Ser sozinho é ser... consigo mesmo?

Sento para escrever algo — talvez um texto, um desabafo, um pedaço de mim. Tento transformar essa solidão em força, em manifesto. Começo com a velha ideia de liberdade: a delícia de não ter que dar satisfações a ninguém, de poder ir e vir, de viver por si. Um egoísmo quase charmoso, desses que a gente aprende a defender como liberdade. Mas a verdade, mesmo que a contragosto, escapa entre os dedos: a solidão tem dias bons, sim, mas há noites em que tudo que eu queria era encostar a cabeça no ombro de alguém. Só isso. Não um grande amor, não um enredo cinematográfico. Apenas um silêncio compartilhado.

Não é desespero. É cansaço.

O problema é que minha única experiência de amor foi um naufrágio. Tóxico. Abusivo. Um amor que se disfarçava de necessidade, que me dopava com mentiras e me fazia acreditar que minha existência era pequena demais pra caber sozinha. Um amor que me ensinou a duvidar de mim. E como esquecer isso? Como confiar de novo quando tudo que se lembra é o gosto amargo de ser manipulada?

O tempo passou, é verdade. Mas a voz interna ainda cochicha que eu não sou digna de amor. Que não há nada em mim que valha ser escolhido. E quando, por acaso, alguém se aproxima, é como se um alarme disparasse. Me escondo no papel de amiga, fujo antes que algo floresça. Finjo indiferença — é mais seguro assim.

Às vezes me pergunto se essa vai ser minha história. Se é isso que sobrou pra mim: viver sozinha. E então, quase como uma resposta tardia, uma centelha acende. Talvez não seja uma sentença. Talvez seja só uma fase. Uma travessia. E quem sabe, sem eu perceber, alguém chegue. Não como salvador, mas como companhia. Alguém que escolha caminhar ao meu lado, e não me empurrar para o fundo.

Mas aí vem a realidade crua: já se vão quase seis anos solteira. Relações rápidas, passageiras, encontros que duram uma noite e somem pela manhã. Onde está o futuro nisso? Como reconhecer o que é real quando tudo se desfaz antes mesmo de começar?

Respiro fundo.

A verdade é que estou aqui. Sozinha. No sentido mais completo da palavra. E talvez seja hora de aceitar isso com menos drama e mais honestidade. Este é meu momento, minha versão de agora. Não preciso me punir pelo passado nem me apressar por um futuro que não chegou. Preciso apenas viver — um dia de cada vez — e parar de esperar que alguma parte da minha solidão seja resgatada por outro alguém.

Só que, cá entre nós, esse debate interno é cansativo. Quase cômico, se não fosse tão real. Preciso trabalhar, tenho coisas pra fazer, e essa conversa fora de hora na minha cabeça não ajuda em nada.

Chega. Silêncio.

Por hoje, viver basta.

Um comentário:

  1. Oie! Decidi voltar pro mundo dos blogs depois de muitos anos e, vasculhando no meu "seguindo" de antigamente, acabei encontrando o seu. Nem de longe sei me expressar tão bem (e, a essa altura, nem sei se quero mais), mas me identifiquei muito com essa fase da sua vida. Vou voltar a te seguir, se não se importar. Espero que esteja tudo certo por aí!

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