Eu não sou do tipo comunicativa.
Quero dizer, não me abro para falar sobre os meus sentimentos, mas sou capaz de desmembrar assuntos aleatórios, como construções e decorações, economia e taxas de juros, literatura e artes. Aleatoriedades, mas sem de fato expressar meu eu interno.
É assim que eu sou: uma pessoa com uma imensa redoma de vidro em volta do meu eu, uma redoma empoeirada que deixa transparecer apenas uma pequena parte de quem sou, mas nunca o suficiente para me mostrar por completo.
Confesso que viver dessa maneira é cansativo. Hoje em dia, pelo menos, é muito cansativo; no passado era mais fácil. A questão é que, no início, eu apenas escondia — sempre foi parte da minha personalidade ser introvertida.
O tempo, porém, se mostrou um grande inimigo, porque as coisas começaram a se acumular, o peso foi aumentando, e então eu me tornei como um cano frágil que precisa aguentar uma pressão intensa de água: cheia de vazamentos que eu continuamente tento remendar.
Eu não consigo me consertar, pois isso significaria quebrar minha redoma, me expor ao mundo e, consequentemente, ser mais vulnerável perante ele.
Continuo, então, vivendo e convivendo com o cansaço de me remendar e conter, por alguns instantes, os meus vazamentos.
É incrivelmente interessante como a maioria das pessoas não percebe. Eu vivo numa constante luta interna e quase ninguém se dá conta. Talvez eu seja uma atriz capaz de atuar com perfeição, ou talvez as pessoas percebam que sou estranha, porém simplesmente não se importem.
Não sei bem o que pensar; são duas possibilidades interessantes, com críticas enraizadas, e as duas podem acontecer ao mesmo tempo. Mas não quero me alongar nessa ideia.
O que eu quero? Eu quero me sentir livre!
Não desejo estar dentro de uma redoma. Desejo não precisar me remendar, mas sim um conserto duradouro. Desejo não mais atuar.
Provavelmente este é um dos textos mais profundos e viscerais que já escrevi sobre mim, sem muito vitimismo. Estou feliz em saber que ainda posso me descrever sem a sensação de que estou chorando. Esta sou apenas eu, e ponto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário