domingo, 16 de março de 2025

O Eco da Madrugada

Um cigarro na boca, levemente bêbada, cabelo bagunçado e a camisa de uma banda pouco conhecida rasgada, ela está sentada na beira da avenida, observando os carros que passam pela madrugada. Tão despedaçada, com ideias meio tortas. Algumas pessoas acham que a vida dela não vale muita coisa e que sua existência não acrescenta nada a esse mundo.

Existe beleza nela, sonhos e sentimentos, existe tanta vontade de viver, mas o mundo já decretou que ela não deveria existir. Ela é uma falha, e o que quer que essa não tão jovem mulher decida, não vai valer a pena. Todos a encorajam a desistir, porque o seu tempo já se foi e não há mais nada que se possa fazer para mudar.

Quando jovem, existiam uma infinidade de oportunidades, mas sabe como é: decida rápido, decida certo, e quando envelhecer, não haverá mais nada que se possa fazer.

Ela permanece ali, na beira da avenida, os olhos vagos acompanhando os faróis dos carros que cortam a noite. O mundo ao seu redor parece tão distante, mas, ao mesmo tempo, tão próximo, como se pudesse tocá-lo se estendesse a mão. Cada pensamento é uma luta, cada suspiro, uma tentativa de compreender onde se perdeu.

E, no entanto, em um momento de clareza, ela percebe algo: o tempo não é um inimigo, mas um aliado. O que ela imaginava ser a falha de sua existência era, na verdade, uma chance de recomeçar. Não importa o quanto tenha se perdido, ainda há algo a ser encontrado. No fundo, ela sabe que a vida não se define pelo que dizem, nem pelo que os outros esperam. Ela é mais que a opinião do mundo.

O vento começa a soprar mais forte, bagunçando ainda mais seu cabelo, como se quisesse dar-lhe coragem. Ela se levanta, com um esforço quase imperceptível, mas com a força de quem sabe que, apesar dos pesares, a caminhada não precisa ser feita sozinha. A avenida, antes vazia de possibilidades, agora se abre à sua frente, e ela decide, enfim, dar o primeiro passo.

Algumas coisas podem parecer irreparáveis, mas há sempre uma chance para quem ainda acredita no poder de recomeçar. O mundo pode ter dito que ela não deveria existir, mas ela decidiu que vai continuar existindo, de uma forma que só ela entende. E com o coração um pouco mais leve, ela segue, porque, no fim, o único julgamento que importa é o seu.


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