quarta-feira, 12 de março de 2025

Quando a Vida Não Segue o Roteiro

Montar textos, colocar em palavras momentos, sentimentos e histórias sempre foi um prazer, um encanto e, por algumas vezes, uma necessidade. Escrever é um ato revolucionário, é incrível, é cativante. Escrever é arte, é dar vida, é informar. Escrever pode ser mil e uma coisas; pode ser um universo e, às vezes, pode ser uma célula.

Quando comecei a escrever um blog solitário, não foi com a intenção de revelar a terceiros, porque em nenhum momento quis me comprometer com algo tão sério; talvez eu apenas quisesse me abrir. Porém, já fazem meses que não me dedico a escrever pelo prazer e pela rebeldia de escrever. Talvez tenha sido a falta de tempo ou a falta de inspiração. São tantos afazeres que acabo deixando o ato de escrever de lado.

Este mês, meu aniversário está chegando, e completo mais um ciclo, encerrando uma jornada e iniciando uma nova. Eu havia pensado em escrever sobre o quanto comecei o ano extremamente empolgada e disposta a dar vida aos meus sonhos. Tive expectativas de colocar em prática toda uma vida de vontades, planejei viagens, procurei informações sobre como finalmente tirar a CNH e comecei a pensar em formas de conquistar a tão sonhada independência.

Hoje, venho escrever sobre como lidar com o sentimento de quando os planos não saem exatamente como esperamos.

Para conseguir entender melhor isso, começaremos do início. Ao longo de toda a minha vida, tive alguns sintomas, digamos assim, situações que não me preocupavam. Às vezes, perdia a memória, às vezes, o equilíbrio; tive dores de cabeça recorrentes. Eu não dava muita atenção, achava que era “normal”. No final do mês de outubro de 2024, tive a minha primeira crise convulsiva. Nos meses que se seguiram, as crises se tornaram frequentes, e comecei a esquecer palavras ou frases. Com tudo acontecendo rapidamente e a fraqueza no corpo, precisei procurar um médico. O diagnóstico de Epilepsia do Lobo Temporal Mesial não foi exatamente uma surpresa, mas o diagnóstico de Esclerose Hipocampal me pegou desprevenida.

Claro que fui muito encorajada pelos médicos. Sou uma mulher jovem, a doença está no estágio inicial e pode ser controlada com medicamentos, sendo pouco provável que será necessário intervenção cirúrgica. No entanto, será necessário abrir mão de algumas coisas, por enquanto. Não haverá mais happy hour com amigos por algum tempo, nem aquele vinho de sábado à noite. A CNH vai precisar esperar mais alguns anos, e as viagens talvez só daqui a dois anos…

Eu sei que deveria ficar feliz em saber que tudo é reversível, mas fico com a sensação de que, todas as vezes em que tentei fazer minha vida andar, algo me fez parar. Um relacionamento tóxico me fez parar por um tempo. Depois veio a gravidez. Quando finalmente comecei a fazer a vida andar, veio a pandemia de Covid, e agora, tentando superar minhas dificuldades emocionais, tentando fazer a vida funcionar, novamente me vejo parada.

Nesse momento, o que me resta? Continuar a escrever, tentar fazer funcionar aquilo que dá, talvez finalizar a faculdade. Mas este ano, sinto que não haverá festa ou comemoração.

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