sábado, 13 de dezembro de 2025

Guardado

Mantenho meus relatos silenciosos nesta página perdida da internet.

Tornou-se como um segredo protegido. Não que eu esteja lutando para manter meus desabafos escondidos, apenas sinto que mantê-los guardados do meu mundo real me traz um sabor diferente.

Os últimos dias do ano têm sido meio sufocantes para mim. Espero voltar umas duas ou três vezes, talvez postar sobre um ensaio pessoal ou mais algum relato aleatório — provavelmente a segunda opção.

Enfim, tenho vivido dias estranhos, atravessados por um caos interno. Uma roleta de decisões pula à minha frente, e eu tento entender qual caminho tomar.

Há muito tempo escrevi sobre minhas mirabolantes ideias de projetos. Alguns apenas dormiram, para que possam se tornar mais desenvolvidos, e ainda permanecem dentro da minha mente. Outros eu simplesmente matei, pois não condiziam com a pessoa que me tornei.

Este não será um dos meus textos extensos, mas é divertido, para mim, escrever pouco. Não escrevo para mostrar destreza — que não tenho — com as palavras; escrevo para expor minha alma.

Nessas poucas linhas, expus muito sobre mim. Parece pouco, mas é isso que estou vivendo: muito pouco.

Ainda quero postar uma ou duas coisas antes do final deste ano, mas talvez eu suma por aqui e demore para retornar…

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Dezembro e seu inevitável caos.

Cada mês do ano transmite uma sensação própria, quase como uma atmosfera que se encaixa nas realidades pessoais. Fevereiro, por exemplo, carrega a ousadia do carnaval, o calor do verão e as praias abarrotadas. Maio remete à maternidade e às celebrações dedicadas às mães. Há também as datas individuais, aquelas que marcam eventos importantes na vida de cada um.

Boa parte dessas sensações, no entanto, foi apropriada e mercantilizada pelo comércio, que estimula o consumo e garante o constante escoamento de produtos.

Dezembro, por sua vez, é intenso. Suas representações são diversas: a correria do fim de ano, as jornadas de trabalho sem pausa, o fluxo econômico acelerado, os ajustes das finanças e as clássicas comemorações de Natal e Ano-Novo. O último mês do ano simboliza união familiar, encerramento de ciclos e o planejamento de uma nova jornada.

Talvez por isso seja um período em que muitas pessoas fazem um balanço da própria vida — conquistas e fracassos, planos e metas, caminhos percorridos. Para alguns, esse processo é grandioso; para outros, é um verdadeiro caos.

Curioso notar como, em dezembro, fala-se muito sobre a força das celebrações e a sensação de recomeço, mas pouco se discute sobre os sentimentos íntimos — e por vezes negativos — que essa época também desperta. Arrisco dizer que, para muitos, dezembro é um pesadelo silencioso.

Há solidão, receio e, às vezes, medo. A reclusão se torna companheira de alguns, porque a intensidade do mês é incômoda e escancara que nem tudo é festa e sucesso. Nem todos amam esse período, e isso precisa ser compreendido.

Eu mesma vivo uma relação de amor e ódio com as intensidades que dezembro traz. Houve momentos em que fui mais feliz nesse mês. Em contraste, também houve um dezembro em que finalizei um relacionamento extremamente tóxico — algo que, à época, eu não conseguia enxergar. Atualmente, dezembro tem sido um pesadelo pessoal, pois me traz a forte sensação de que falhei nos últimos anos: na carreira, na vida pessoal, como filha e como mãe. O fracasso é cruel, e é justamente em dezembro que ele parece pulsar mais forte.

Meu balanço pessoal é turbulento, e aos trinta anos eu gostaria de ter conquistado mais. Ainda assim, sigo aqui. Não desprezo minha trajetória e reconheço as limitações que me impediram de caminhar no mesmo ritmo que outras pessoas, mas, às vezes, é exaustivo lidar com esse sentimento. Talvez eu esteja cobrando demais de mim mesma — talvez seja apenas isso.

Ao analisar tudo isso, percebo que dezembro está longe de ser apenas um mês comum. Existe um conceito por trás dele, uma narrativa e um simbolismo — comercial, pessoal ou religioso — que nenhuma outra época do ano possui. Dezembro é, inevitavelmente, um caos.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O turbilhão que precede a calmaria

Às portas do final de ano, sem saber exatamente como lidar com a vida e procurando um meio de me manter de pé, venho em mais um texto para comentar sobre as coisas.

Sinto uma forte sensação de que estou prestes a fazer as coisas andarem. Não sei, apenas sinto. Gosto de pensar que, no meio desse mar caótico, vou encontrar uma saída. Tenho me agarrado a esse pensamento.

Devo assumir que, neste momento, as coisas estão bagunçadas e parte de mim está sem rumo. Tudo bem — eu acredito no voto de fé que dei a mim mesma.

Grande parte das decisões que tomei ao longo da vida foi movida pelo impulso. Desta vez, não foi o impulso. Eu me sentei e pensei em cada passo. Entendo que nem sempre as coisas saem exatamente como planejamos, e estou preparada para as dificuldades também.

Posso dizer que estou vivendo um dia de cada vez. Mesmo me sentindo perdida e, às vezes, sem saber como continuar. Toda essa parte conturbada que os começos possuem é exatamente o que imaginei que seria. Eu me preparei para o caos inicial — e sigo, mesmo aos tropeços, eu sigo.

É confortante para a minha mente conseguir seguir. Até pouco tempo atrás, eu tinha poucas esperanças; minha saúde estava um caco e meu emocional, devastado. Era como se não houvesse salvação. Agora estou me salvando — e me orgulho desse mérito.

Este texto possui uma serventia única. Não para que outros o leiam, mas para mim mesma. No futuro, quando eu estiver fuçando os textos do passado, vou encontrar este. E quando isso acontecer, espero sorrir e me orgulhar, porque mesmo com todas as dificuldades, mesmo quando quase desisti de mim, pude achar uma solução e, no meio da bagunça que minha vida era, renasci.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Ponto

Eu não sou do tipo comunicativa.

Quero dizer, não me abro para falar sobre os meus sentimentos, mas sou capaz de desmembrar assuntos aleatórios, como construções e decorações, economia e taxas de juros, literatura e artes. Aleatoriedades, mas sem de fato expressar meu eu interno.

É assim que eu sou: uma pessoa com uma imensa redoma de vidro em volta do meu eu, uma redoma empoeirada que deixa transparecer apenas uma pequena parte de quem sou, mas nunca o suficiente para me mostrar por completo.

Confesso que viver dessa maneira é cansativo. Hoje em dia, pelo menos, é muito cansativo; no passado era mais fácil. A questão é que, no início, eu apenas escondia — sempre foi parte da minha personalidade ser introvertida.
O tempo, porém, se mostrou um grande inimigo, porque as coisas começaram a se acumular, o peso foi aumentando, e então eu me tornei como um cano frágil que precisa aguentar uma pressão intensa de água: cheia de vazamentos que eu continuamente tento remendar.

Eu não consigo me consertar, pois isso significaria quebrar minha redoma, me expor ao mundo e, consequentemente, ser mais vulnerável perante ele.
Continuo, então, vivendo e convivendo com o cansaço de me remendar e conter, por alguns instantes, os meus vazamentos.

É incrivelmente interessante como a maioria das pessoas não percebe. Eu vivo numa constante luta interna e quase ninguém se dá conta. Talvez eu seja uma atriz capaz de atuar com perfeição, ou talvez as pessoas percebam que sou estranha, porém simplesmente não se importem.
Não sei bem o que pensar; são duas possibilidades interessantes, com críticas enraizadas, e as duas podem acontecer ao mesmo tempo. Mas não quero me alongar nessa ideia.

O que eu quero? Eu quero me sentir livre!
Não desejo estar dentro de uma redoma. Desejo não precisar me remendar, mas sim um conserto duradouro. Desejo não mais atuar.

Provavelmente este é um dos textos mais profundos e viscerais que já escrevi sobre mim, sem muito vitimismo. Estou feliz em saber que ainda posso me descrever sem a sensação de que estou chorando. Esta sou apenas eu, e ponto.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Estou soltando a corda

Não vivo a vida que escolhi, não degusto a comida que comprei e muito menos desfruto da água ou da energia que paguei. Muito pelo contrário: sinto-me como uma exploradora de vidas alheias.
Estou nessa jornada há algum tempo e nunca esperei que fosse um caminho fácil; me preparei desde o início. Mas aqui estou eu, me entregando. Algumas pessoas vão me perguntar: Por que você está desistindo? Bem, soltar a corda não é simples, e existem camadas por trás dessa decisão.

Este texto é mais um dos meus desabafos e, como já mencionei em vários outros, minha vida é monótona, sem graça, e eu apenas sobrevivo às decisões que terceiros tomam por mim.
Caí na ilusão de sair do meu antigo trabalho para “me concentrar nos estudos”, enquanto sou sustentada. Confesso que o emprego era explorador, mas ainda assim eu conseguia uns trocados para comprar o básico — agora nem isso tenho mais. Não possuo roupas inteiras; a maioria está surrada ou rasgada. Meu celular está prestes a parar de funcionar a qualquer momento, e não é que eu queira o aparelho da última moda — só quero um meio de me comunicar. Não tenho dinheiro para meus remédios e vivo como uma sanguessuga.

Sei que as pessoas podem questionar o fato de eu viver assim, mas ao menos consegui investir nos estudos. Mais uma cilada. Se eu soubesse que a faculdade não me daria qualquer suporte ao destrancar o curso, nem teria voltado. Sou obrigada a cursar cerca de oito disciplinas por semestre, praticamente em horário integral, o que torna impossível conseguir até mesmo um estágio.

Já é complicado o suficiente viver nesse marasmo, consumida pela saúde instável, pela sensação de fracasso e nocauteada pela graduação. E então vem a pessoa que deveria ser minha base — todos os dias tem algo negativo a dizer sobre minha personalidade ou sobre os erros que cometi e, sempre que pode, me relembra que sou um peso. Tudo isso foi se tornando uma grande massa dentro de mim, algo agarrado na minha garganta. Meu corpo vacila a cada dia e tudo o que sinto é uma tristeza intensa.

Eu não quero mais viver à sombra de outra pessoa. Quero minhas próprias decisões. Estou soltando a corda. Deixando para trás aquilo que me machuca e buscando um novo começo — um lugar onde eu pare de me guiar pelas escolhas alheias e possa, finalmente, ser eu mesma.

Tenho plena consciência de que não será fácil, até porque caminhos fáceis não existem. Toda jornada possui seus desafios. Eu tenho medo do que me aguarda, mas não tenho mais medo de decisões ruins. A essa altura da minha vida, depois de tanta escolha equivocada, bem… mais uma não será o meu fim. O que eu quero agora é a liberdade de ser líder da minha própria vida, e não o fardo de alguém. 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Pertencimento: mais do que um conceito acadêmico

Recentemente, me vi realizando uma extensa e longa pesquisa sobre o conceito de pertencimento para elaborar um trabalho da faculdade. Depois de um bom tempo mergulhada no assunto, senti necessidade de falar mais sobre o tema, porém adicionando minhas opiniões pessoais, já que, para a faculdade, o texto precisa ser limpo. Então, hoje vou escrever sobre algo que não estou acostumada a colocar por aqui.

Primeiramente, precisamos entender que o pertencimento está profundamente ligado à nossa natureza social e que somos seres dependentes da interação com outras pessoas a partir do momento em que nascemos. Desde os primórdios dos tempos, existe a necessidade de estar inserido em algum grupo, pois isso era uma questão de sobrevivência. O indivíduo que fazia parte de um bando possuía maiores chances de sobreviver e experimentava um sentimento de segurança, enquanto aquele que era excluído ou rejeitado não possuía.

O conceito de pertencimento é algo extremamente amplo, que poderia ser desenvolvido em um texto muito extenso, mas um artigo específico me chamou a atenção, principalmente por abordar alguns caminhos que podem parecer óbvios, mas aos quais acho que as pessoas não se atentam tanto (vou deixar a referência com o link do artigo ao fim do texto). No artigo, o autor fragmenta o pertencimento em três dimensões principais.

A primeira dimensão abordada é o pertencimento social, que é condicionado à inclusão dentro de estruturas coletivas, sejam elas nações, classes, culturas ou instituições. Dentro desse campo, é abordado como a modernidade e a pós-modernidade trouxeram novas premissas de exclusão e hierarquização. Também é defendido que pertencer não depende apenas de reconhecimento formal, mas também de aceitação simbólica dentro das normas culturais e políticas de cada comunidade.

Na segunda dimensão abordada, fala-se sobre o pertencimento corporal. Num primeiro momento, antes de ler o texto, acreditei que isso estava ligado a padrões estéticos, mas deparei com uma tese muito mais extensa. Esse vetor afirma que é o corpo que torna visível a posição do indivíduo dentro da sociedade, definindo as chances de inclusão conforme raça, gênero, deficiência, geração e sexualidade.

E, por fim, temos o pertencimento afetivo e existencial. É dentro dessa dimensão que se aborda o pertencimento como disposição emocional e sentido de vida, afirmando que ele é sustentado por quatro necessidades humanas (propósito, eficácia, valor moral e autoestima). A ausência de pertencimento, causada por rejeição ou exclusão, desestabiliza o sentido existencial e gera sofrimento.

Bom, não preciso nem mencionar que isso é só um resumo extremamente superficial do que é abordado no artigo, porém recomendo a leitura.
Claro que sou bastante leiga nesse campo — curso Administração, e não Psicologia —, mas achei muito interessante a forma como o assunto foi abordado e as comparações com a literatura feitas ao longo do texto.

Parte de mim se enxerga um pouco nesses conceitos e na forma como lido com a vida. Ultimamente, tenho me sentido constantemente isolada e depressiva, então realizar esse trabalho na faculdade tem sido uma via de mão dupla, tanto para me dar uma nota quanto para que eu possa lidar com os meus problemas relacionados a isso.

Bom, essa é minha extensa opinião, e sei que o texto ficou muito maior do que eu pretendia, mas me senti feliz em colocar algo tão diferente e não as mesmas palavras de sofrimento com que costumo encher este blog.

Referência:
MATHIAS, Dionei. Pertencimento: discussão teórica. SciELO Brasil, 28 abr. 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/alea/a/5j8SHLFb5zy65tR5s5fjpSy/?format=html&lang=pt. Acesso em: 30 out. 2025.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Eu, o fardo

Considero-me um fardo. Algo pesado, difícil de carregar, uma escolha que as pessoas não fazem porque querem, mas porque foram forçadas.

Talvez eu seja como um fardo de algodão: seco, é leve; mas, molhado, torna-se pesado e muito mais difícil de sustentar.

Seca sou eu, o eu que tenta não ser tão complicado, o eu que busca algo melhor, o eu que, por mais problemática que seja a própria vida, gosta de ver as pessoas ao redor um pouco mais felizes. É essa a versão de mim que tenta tornar o fardo que sou mais leve,  a minha versão limpa.

Molhada é a versão cheia de traumas, a versão deprimida, que entra em crises, que não consegue arrumar um emprego, que observa tudo ao redor desmoronando e nada consegue fazer para melhorar. Uma versão bolorenta, podre e fétida.

Um fardo é um fardo, seja de algodão seco, de lavanda ou até mesmo de mel. Nada é possível fazer para que um fardo deixe de ser fardo. Ele simplesmente é.

Eu gostaria de não ser o fardo. Gostaria de ser a brisa limpa e fresca da primavera, de ser tinta aquarela sobre um quadro, ou palavras que carregam boas notícias. Mas eu sou ventania gelada, sou bolor nas paredes e poema triste. Eu sou um fardo.

No início, quando me dei conta do que eu era, fiz absolutamente de tudo para mudar. Ser o que sou me entristece, me causa revolta e desconforto. Porém, eu sempre tomava decisões impensadas e erradas, causava problemas e deixava um rastro de caos. Então aceitei: sou difícil, pesada e tortuosa. Desde então, faço o possível para ser um fardo menos pesado, mesmo sabendo que nunca deixarei de ser um.

Tento todos os dias ser brisa leve, algodão seco e lavanda. Tento melhorar, tomar decisões mais sábias, ser boas notícias e mel.

Acho que é isso que eu sou: um fardo que tenta ser menos fardo, mesmo que isso seja extremamente difícil. Talvez, algum dia, eu deixe de ser um fardo para as pessoas. Serei apenas o fardo que a terra consome, até que, enfim, nada mais eu serei.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Aqui

Não tem sido um início de mês fácil. Enganei muitas pessoas porque não tive coragem de expressar o que realmente está dentro de mim.
Alguns diriam que tudo bem passar por tempos difíceis, mas eu sinto que estou sempre atravessando uma temporada difícil na minha vida.

Ultimamente, passei a me questionar sobre o que, ou quem eu sou, onde quero chegar e o que tenho feito além de simplesmente viver por viver. Achei um pouco patético ter uma crise de identidade nessa altura da vida.

Gostaria, de verdade, de compreender coisas simples, como o sentido de continuar vivendo quando tudo o que eu queria era desistir de tudo. Por que eu continuo, se há tantas pessoas que merecem muito mais viver do que eu?
Não tenho respostas concretas para essas perguntas. O que sei é que cheguei até aqui e nem sei se devo me vangloriar por isso. Sinceramente, eu nunca achei que passaria dos 25; sempre imaginei que cairia em algum ponto dessa estrada. Mas, afinal, a que custo eu cheguei até aqui?

Compreender, então se achar; se entender, e talvez não precisar mais questionar o real sentido de viver.
Viver sem a liberdade de ser quem eu sou, ou quem eu acredito ser. Preciso abrir mão de mim todos os dias para que as coisas sigam, enfim, o trilho “correto”.

Viver e tomar meus remédios para que a crise convulsiva não me apague no meio da rua.
Viver e cursar uma graduação qualquer, porque isso vai encher os outros de orgulho.
Viver e ser completamente dependente de outras pessoas, porque me sinto um fracasso, em forma de filha, de mãe, de mulher, de ser humano.

A que custo eu cheguei até aqui, se não sou capaz de caminhar sozinha?

Vejo os dias passando, o mundo girando, as pessoas correndo… e eu, parada.
Mas, ainda assim, eu cheguei aqui.

Eu não consigo entender o porquê, nem como cheguei.
Mas, de alguma forma, aqui estou.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Crônica das cinzas

Acendo mais um cigarro, mesmo que eu esteja gripada e com a garganta meio ruim. Hoje é mais uma madrugada em que estou sozinha e dialogando com a minha tristeza.

Eu queria ser outra pessoa, não eu mesma, mas queria ser alguém diferente do que eu sou. Voltaria no tempo para mudar isso, talvez eu não fosse tão triste.

Observo a fumaça do cigarro subir, é apreciável sua liberdade, se a nicotina não fosse algo tão nociva… mas devo admitir que há poesia nela. Destruir a própria saúde pouco a pouco.

Ainda continuo olhando o cigarro se acabar em cada tragada e sinto que é como eu sou. Eu sou como esse cigarro? Quer dizer, continuo me acabando de pouco em pouco. Não posso culpar ninguém pelos meus fracassos, apenas a mim mesma.

Todos esses pensamentos me soam um tanto autodestrutivos. A madrugada parece que será longa e eu estou bebendo mais uma taça de vinho. Bem piegas, a mulher que se destrói bebendo, fumando e tomando decisões erradas.

Será que eu vou ser essa mulher por quanto tempo? Mesmo não podendo beber, mesmo não podendo fumar, mesmo tendo opções melhores, continuo me sabotando.

Claro que eu poderia apenas finalizar tudo, acabar com todo o sofrimento. Basta uma boa lâmina ou uma caixa de remédios potentes… Não, eu não vou fazer isso. Existem coisas que me prendem nessa vida, coisas importantes e eu tenho algum tipo de esperança afincada dentro da minha alma que tudo isso vai melhorar.

Olho tudo em volta, já estou na terceira ou quarta taça de vinho e nem sei quantos cigarros já fumei, só consigo pensar que eu gostaria de ser outra pessoa. Se tivesse a chance de voltar no tempo, provavelmente iria bater no meu antigo eu. Não daria conselhos, apenas iria descer ela no soco. Talvez ela se tocasse que estava tomando todas as decisões burras!!

Fantasiar uma vida que poderia ser um pouco melhor do que estou vivendo é quase um hobbie perverso. Mas eu sigo fantasiando. Não sou e nem nunca fui dessas que pensa que os erros levaram ao amadurecimento e aprendizado. Preferia continuar bem estúpida e vivendo um pouco menos dolorosamente.

A taça cai da minha mão e espatifa espalhando vidro pelo chão, mas nem isso me tira da inércia, apenas olhando mais uma das besteiras que fiz, acendo mais um cigarro e bebo o vinho direto da garrafa. Eu estou bêbada, triste e sozinha. Tudo isso é minha culpa.

Eu deveria fazer algo por mim mesma, mas já estou com 30 anos, sem uma vida estável e sem saber como mudar as coisas para melhor. Sei que não deveria me comparar com outras pessoas, mas é inevitável ver as pessoas com trabalhos bons, vidas estáveis e mesmo que não seja uma vida perfeita. Esse diálogo interno não está levando a nada, o vinho acabou e o maço de cigarros está quase no fim.

Me levanto para procurar mais bebida, mas esqueci da taça espatifada. Um caco de vidro se afunda no meu pé. É uma dor estranhamente agradável, essa dor externa não é nem um átomo do que sinto internamente. Vou ao banheiro, deixando um rastro de sangue pela casa, sento no vaso sanitário e consigo retirar o vidro afundado no meu pé. Quando levanto para lavar minhas mãos me olho no espelho. Estou toda bagunçada, não apenas externa, mas internamente também. A maquiagem derretida em meio aos rastros de lágrimas que nem me dei conta que rolavam pelo meu rosto…

Eu realmente sou um cigarro. Estou me tragando, me acabando, virando cinzas e fumaça.

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Comemoração do meu Refúgio Secreto

Costumo gostar de ocasiões especiais. Sou do tipo que acha interessante as datas comemorativas, momentos em que posso sentar e refletir sobre a existência daquele evento e o porquê de ele ser importante a ponto de merecer uma data para marcá-lo.

Neste mês, completo um ano desde que comecei a escrever as palavras que preenchem este blog solitário. Literalmente, um diário de textos aleatórios, os meus textos soltos. Já enchi diversas páginas com informações, desabafos e sinceridades sobre mim. Me abri, me expus, mostrei minhas partes.

Este espaço acabou se tornando um confidente à parte. Eu não sou alguém que se abre com facilidade pessoalmente, na verdade, nem sempre consigo conversar. Sempre foi um dilema expressar sentimentos, mas passei a me abrir por aqui. E, de alguma forma, isso se tornou poético para mim: escrever em um lugar tão silencioso e vazio. É assim que consigo acalentar minha alma, esvaziar minha mente e ponderar minha existência no mundo.

Confesso que, ao longo do caminho, tive meus tropeços. Vontades de largar tudo e simplesmente desistir. Mas, enquanto escrevia aqui, mantive firme minha regra pessoal dos cinco minutos. Se estou no meio do caos, da turbulência emocional ou de uma crise de ansiedade, sento para escrever. Examino a situação e, depois dos primeiros cinco minutos, consigo me acalmar e encontrar uma saída para aquilo que parecia tão esmagador.

Enfim, este é o meu canto. Meu lar. Meu espaço. Aqui, guardo memórias, algo que tem se tornado cada vez mais precioso para mim, especialmente agora que elas parecem escorrer por entre os meus dedos, como areia.

Sei que posso soar como uma idosa falando assim, mas ainda não sou. Nem cheguei à metade da vida. Mas, com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, com essa constante pressão para me adequar ao que esperam que eu seja, acabo me sentindo exausta... e, sim, um pouco velha.

Acho que me perdi de novo no meio das palavras. O que eu queria dizer, desde o início, é: faz um ano que tenho este blog solitário. Vivi grandes altos e baixos por aqui. E sou imensamente grata por poder escrever.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Eu...

Eu sou tantas, e ao mesmo tempo, sou uma só. Sou variável, sou pequena, sou única — e, ainda assim, não sou ninguém…
Posso estar aqui, na sua frente, olhando nos seus olhos e, ao mesmo tempo, não estar. Porque também estou do outro lado do mundo. Assim como posso estar a milhas de distância do contato físico, mas, em minha mente, alma e coração, nós estamos unidos.
Houve um tempo em que eu queria ser apenas uma, porque ser várias dentro de uma só é cansativo. Encontrar-me e compreender cada uma das versões que habitam em mim é um trabalho árduo. Então, anos atrás, quando eu ainda não compreendia o poder que isso me dava, eu me perdia — porque, às vezes, encontrar-se é difícil.
Quando eu desejava ser uma só, presa naquele ciclo infinito de me perder e não saber como me reencontrar, também enfrentava uma crise de aceitação. Ser tantas e, ao mesmo tempo, não ser nenhuma me levava a colapsos internos, a momentos intensos de conflito com minha própria identidade. Existem passagens da minha vida das quais me lembro com certo embaraço. Lembro-me de papéis tristes que desempenhei, situações em que me humilhei apenas para ser aceita. E há uma parte de mim que não se orgulha desses momentos. Mas o tempo foi justo. Essas experiências me ensinaram. Elas me prepararam para que eu aprendesse a me aceitar e a entender que não há nada de errado em ser multifacetada.
Ao longo de todo o caminho da auto aceitação, aprendi que o ser humano não foi feito para viver sozinho e que há, dentro de nós, uma necessidade natural de convivência em comunidade. Ainda que eu acredite que as pessoas devem colaborar para que as coisas funcionem bem, e que eu mantenha certo grau de interação social com aqueles que me cercam, ainda assim, muitas vezes, me sinto como uma ilha no meio do oceano — solitária e deserta.
Na trajetória que tenho percorrido e nos valores que abracei ao longo da vida, nunca encontrei um lugar ou uma comunidade que me proporcionasse um verdadeiro sentimento de pertencimento. Com toda a sinceridade do meu coração, apesar de, às vezes, desejar um ombro amigo, eu gosto da minha solitude. Aprendi a valorizá-la.
Hoje eu sei. Eu vejo. Eu valorizo. Eu entendo. Eu amo.
Sei que sou muitas em uma só. Vejo que isso tem seus dias bons e ruins. Valorizo minha solidão. Entendo o valor de ser quem sou. E amo me perder, só pelo prazer de, todos os dias, me reencontrar em uma versão diferente de mim mesma.
E, mesmo que eu me sinta sozinha, não me sinto triste. Porque eu me sinto bem. Eu me sinto eu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Retorno

Hoje eu retorno sem um assunto definido, apenas com a velha e boa vontade de me expressar. Sem um foco específico, venho contar um pouco sobre os últimos dias e acontecimentos. Não que alguém sinta falta do que escrevo sinceramente, não acredito que alguém vá gastar alguns minutos do próprio tempo lendo minhas palavras, mas eu sinto falta de escrever.

Enfim, depois do enorme drama que foi o meu último texto, é até surpreendente que eu, de fato, tenha voltado, e não "fugido para as colinas". Mas essa sempre fui eu: às vezes movida pela lógica, às vezes pelo drama, e às vezes não movida por nada... apenas existindo. Sinceramente, nem sei o que pensar ou opinar sobre essa pessoa que sou.

Falando sobre o meu lado dramático: a depressão sempre me esmagou. De alguma forma, sempre me senti muito quebrada, e esse é um dos motivos pelos quais não consigo dar continuidade à maioria das minhas metas. Mas, ainda assim, aqui estou eu. Confesso que, por vezes, tive dúvidas se conseguiria continuar, mas, de algum modo, me permiti seguir em frente. E sigo aqui.

Nas últimas semanas, tenho me dado a chance de repensar minhas escolhas. Já comentei diversas vezes que sou o tipo de pessoa que precisa de um propósito, de uma razão para seguir em frente. Mesmo que nem sempre eu vá até o fim, gosto de ter um objetivo, um ponto a ser alcançado. A graduação se tornou uma dessas metas. Tudo bem que, em meio às dificuldades, entre tropeços e momentos em que sinto vontade de abandonar tudo, ainda estou conseguindo e me orgulho disso.

Tenho passado também por uma fase em que preciso encontrar novas formas de "fazer dinheiro". Sinceramente, não faço ideia de como vou conseguir isso, principalmente porque minha rotina não me permite trabalhar formalmente. É desgastante não ter como me sustentar, então a busca por aprender a me manter virou uma necessidade real.

Acho que é isso que estou tentando dizer ou expressar, embora não esteja me saindo muito bem. Tenho vivido os meus dias apenas por viver. Sei que preciso aprender a estabelecer metas reais, possíveis de serem cumpridas, e não objetivos insanos e inalcançáveis. É estranhamente incômodo viver assim, porque estou fora do que acredito ser o certo. É doloroso uma sensação de extremo vazio continuar desse jeito.

E, apesar de ter voltado (ainda que parte de mim duvide dessa volta), me pergunto se realmente vale a pena continuar assim... e como posso fazer para encontrar ou construir um caminho mais digno e verdadeiro.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

E se eu fugisse?

Não que eu tenha um local para me abrigar, dinheiro suficiente para me manter ou um plano decente para que as coisas funcionem depois de fugir.

Mas do que eu estou fugindo? Fugindo das dificuldades? Fugindo de ser mãe? Fugindo de todas as escolhas ruins? Fugindo da doença? Fugindo do vazio ou de mim mesma?

Eu não sei bem do que eu estou fugindo. Talvez esse seja o momento ruim da minha vida, por isso essa necessidade tão avassaladora de fazer tudo o que está em mim desaparecer.

Ontem eu escutei de uma pessoa algo do tipo: "Quando atravesso uma fase ruim, me agarro à certeza de que tudo passa e que, em breve, uma fase boa vai chegar. Afinal, toda fase tem começo e fim, sejam elas boas ou ruins". Eu achei poético, achei uma forma interessante de se viver. De alguma forma, eu tento viver assim, mas eu não sei quando a minha fase ruim vai passar.

Eu era uma adolescente que pensava que alguém viria me salvar. Por muito tempo, esperei alguém vir me salvar. Pois bem, ninguém veio. Hoje eu sou uma adulta que tenta se salvar, mas não consigo.

Hoje eu olhei em volta, devo ter pouco mais de R$ 30 na minha conta, uma mochila com quase nada nas minhas costas. Com um cigarro na minha boca, pensei seriamente em virar daquelas mochileiras. Só sair por aí, fingir que não tenho problemas ou obrigações. Eu quero apagar e abafar, queria me sentir menos dolorida.

Eu estou aqui, desde sempre esperando a fase ruim passar. Já tentei de tudo para melhorar, mas sei lá quando eu tive uma fase boa... Não estou dizendo que todos os momentos foram especificamente tristes, já senti alguma felicidade, principalmente relacionada à minha filha. Mas, sendo bem sincera, ela é a única felicidade em mim. Não me lembro de algo que fosse feliz fora disso.

Estou tão farta disso, farta de acreditar que em algum momento vai melhorar, farta de ser tão gorda, farta de tentar, farta de estudar, farta de pensar que, se eu aguentar só mais um pouco, vai ficar bem. Talvez seja isso. Não vai melhorar. Talvez eu não volte mais aqui. Isso é uma despedida? Não sei, mas, se eu voltar, hoje eu não fugi. Hoje me deitei, ainda sentindo o vazio, e olhei em volta. Me convenci, de alguma forma, que tudo bem. Algum momento isso tudo acaba. De uma forma ou de outra, vai acabar.

terça-feira, 22 de julho de 2025

A gaveta dos projetos inacabados

Há quem diga que o maior obstáculo está no começo. Eu discordo. Começar, pra mim, nunca foi o problema. A dificuldade está em continuar.

Sou dessas pessoas que têm ideias em momentos aleatórios: no banho, na fila do mercado, no meio da aula. Ideias que parecem grandiosas, promissoras, até revolucionárias. Me empolgo. Crio pastas no computador. Dou nomes bonitos. Começo. Às vezes, até com pompa. Mas, com o tempo, aquela faísca inicial vai se apagando, silenciosa e persistente, como uma vela que queima devagar até se entregar. E o projeto? Vai parar na tal gaveta.

Sim, eu tenho uma gaveta — não de madeira, mas digital — cheia de planos que não viraram realidade. Alguns morreram no primeiro esboço. Outros, resistiram algumas semanas. Todos têm algo em comum: a sensação incômoda de que poderiam ter sido alguma coisa. Algo útil, bonito, talvez até necessário. Mas estão lá, mofando em silêncio.

Eu sei que isso não é normal. Ou talvez seja, vai saber. Só sei que esse ciclo de começar e abandonar já virou um velho conhecido. Já pensei até em terapia — e não foi uma vez só. O curioso é que, enquanto falho comigo, nunca falho com os outros. Trabalho em grupo? Eu me entrego. Faço acontecer. Não deixo ninguém na mão. Mas quando o projeto é só meu, algo trava. A prioridade some. E o compromisso vira um rascunho esquecido.

Outro dia me peguei pensando em como, mesmo com esse comportamento errático, estou conseguindo levar a faculdade. Me surpreendo com isso. Talvez porque lá o compromisso seja “oficial”, com prazos, provas e cobranças externas. Aqui, no meu mundo particular, a cobrança é só minha. E, ironicamente, eu não me levo tão a sério.

Aliás, se estou escrevendo isso agora, é porque estou — adivinhe — começando um novo projeto pessoal. Quer dizer, recomeçando. Tentando resgatar algo antigo e fazer funcionar de um jeito novo. Já me bate aquele medo conhecido: e se, daqui a pouco, eu desistir de novo? E se mais uma ideia for parar na gaveta?

Talvez esse texto seja meu jeito de tentar escapar do ciclo. De me lembrar, no futuro, que eu estive aqui. Que comecei mais uma vez. Que me importei o suficiente para registrar. Vai que, ao reler estas palavras em um momento de desânimo, eu encontre fôlego pra continuar.

Afinal, nem todo projeto precisa nascer pronto. Às vezes, tudo o que ele precisa é de alguém que insista um pouco mais.


segunda-feira, 14 de julho de 2025

O acolhimento ofertado pelas máquinas

Recentemente, eu estava bem estressada, com muitas coisas na cabeça. E, de repente, senti uma necessidade urgente de conversar, de desabafar de alguma forma. Não tinha ninguém com quem sentar e dividir aquilo, e mesmo que tivesse, eu não sou muito de me abrir com facilidade. Então, cometi uma das maiores "atrocidades terapêuticas" da atualidade: escrevi um texto repleto de desabafos super pessoais e o coloquei numa Inteligência Artificial. Para minha surpresa, recebi uma resposta boa, acolhedora, sem julgamentos, que de alguma forma aliviou o peso daquele estresse pulsante.

Foi estranho. Me senti como nos filmes de ficção científica, em que as máquinas começam a substituir os humanos. Mas, ao mesmo tempo, fiquei preocupada e sem entender muito bem o que estava acontecendo. Talvez o meu desespero por um acolhimento rápido tenha sido o gatilho para eu buscar consolo em algo tão impessoal. Um texto tão pessoal, algo que com certeza eu nunca mostraria a ninguém, estava ali, em uma IA. Isso me fez perceber, de uma forma um tanto desconcertante, o quanto eu estava "desesperada" a ponto de pedir socorro a uma máquina.

E então veio a segunda preocupação: o que acontece com os textos pessoais que são publicados para uma IA? Será que alguém lê? Fica arquivado? Ou simplesmente é deletado, como se nunca tivesse existido? Eu, com minha curiosidade habitual, fui pesquisar sobre o assunto e descobri algumas coisas interessantes sobre o uso da IA como ferramenta terapêutica nos dias de hoje.

É claro que a Inteligência Artificial foi criada para realizar tarefas técnicas, principalmente no ambiente de trabalho. No entanto, no último ano, com a popularização dessas ferramentas, vimos uma expansão enorme do seu uso — seja para trabalhos acadêmicos, seja para criar imagens, organizar tarefas diárias ou até mesmo realizar pesquisas simples (afinal, quem nunca abriu a IA em vez de pesquisar no Google?). Com esse crescimento, não seria surpresa que as IAs também começassem a ser usadas em áreas psicológicas, e, de fato, já existem muitas pessoas que utilizam essas ferramentas como suporte terapêutico.

Li que alguns optam pela IA por diversos motivos. A principal delas é a disponibilidade 24 horas por dia. Além disso, a IA não julga o desabafo sincero, oferece conselhos que podem ser estimulantes e, claro, envolve um custo bem mais baixo.

Apesar de eu ter cometido esse "absurdo", acredito que não precisa nem ser dito o quão problemático pode ser substituir uma terapia convencional — com um profissional real, que estudou para estar ali, pronto para dar o apoio adequado — pela chamada "terapia virtual". Eu sou totalmente contra essa substituição. O psicólogo real não pode ser substituído por máquinas, que, em sua maioria, oferecem respostas pré-fabricadas e, no máximo, fazem pequenas alterações de palavras para que a resposta não soe tão robótica. É claro que sempre vamos encontrar profissionais ruins em qualquer área, e isso também acontece na psicologia. Por isso, é importante buscar referências e escolher com cuidado o profissional com quem vamos trabalhar.

No entanto, não quero terminar esse pensamento apenas criticando as IAs. Acredito que elas são ferramentas poderosas e valiosas, que, se usadas corretamente, podem ser de grande ajuda. Eu mesma as utilizo bastante, especialmente para trabalho e estudos. Tenho uma visão bem pragmática: tudo o que foi criado para ajudar pode ser muito útil, desde que seja usado de forma responsável. Mas, se você usar a IA apenas por preguiça, está apenas se tornando mais um alienado, escapando do esforço real de aprender, refletir e, principalmente, se conectar com outras pessoas.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Definição de Sozinho

Abro, mais uma vez, o aplicativo de relacionamentos, esse hábito quase automático que insiste em me lembrar que há algo fora do meu controle: o tempo passando, as pessoas se encontrando, e eu... bem, eu ainda aqui. Sozinha.

"Qual é, afinal, a definição de 'sozinho'?" pergunto em silêncio, mas a dúvida pulsa alto demais. Não resisto e digito no buscador, como se o dicionário pudesse me oferecer algum consolo:

Sozinho – adj.
Absolutamente só. Isolado de tudo. Sem companhia. Acompanhado de apenas uma outra pessoa. Que não conta com auxílio material ou moral de ninguém. Não ajudado por ninguém. Que é único. Consigo mesmo.

Consigo mesmo.
Essa parte me pega.
Ser sozinho é ser... consigo mesmo?

Sento para escrever algo, talvez um texto, um desabafo, um pedaço de mim. Tento transformar essa solidão em força, em manifesto. Começo com a velha ideia de liberdade: a delícia de não ter que dar satisfações a ninguém, de poder ir e vir, de viver por si. Um egoísmo quase charmoso, desses que a gente aprende a defender como liberdade. Mas a verdade, mesmo que a contragosto, escapa entre os dedos: a solidão tem dias bons, sim, mas há noites em que tudo que eu queria era encostar a cabeça no ombro de alguém. Só isso. Não um grande amor, não um enredo cinematográfico. Apenas um silêncio compartilhado.

Não é desespero. É cansaço.

O problema é que minha única experiência de amor foi um naufrágio. Tóxico. Abusivo. Um amor que se disfarçava de necessidade, que me dopava com mentiras e me fazia acreditar que minha existência era pequena demais pra caber sozinha. Um amor que me ensinou a duvidar de mim. E como esquecer isso? Como confiar de novo quando tudo que se lembra é o gosto amargo de ser manipulada?

O tempo passou, é verdade. Mas a voz interna ainda cochicha que eu não sou digna de amor. Que não há nada em mim que valha ser escolhido. E quando, por acaso, alguém se aproxima, é como se um alarme disparasse. Me escondo no papel de amiga, fujo antes que algo floresça. Finjo indiferença, é mais seguro assim.

Às vezes me pergunto se essa vai ser minha história. Se é isso que sobrou pra mim: viver sozinha. E então, quase como uma resposta tardia, uma centelha acende. Talvez não seja uma sentença. Talvez seja só uma fase. Uma travessia. E quem sabe, sem eu perceber, alguém chegue. Não como salvador, mas como companhia. Alguém que escolha caminhar ao meu lado, e não me empurrar para o fundo.

Mas aí vem a realidade crua: já se vão quase seis anos solteira. Relações rápidas, passageiras, encontros que duram uma noite e somem pela manhã. Onde está o futuro nisso? Como reconhecer o que é real quando tudo se desfaz antes mesmo de começar?

Respiro fundo.

A verdade é que estou aqui. Sozinha. No sentido mais completo da palavra. E talvez seja hora de aceitar isso com menos drama e mais honestidade. Este é meu momento, minha versão de agora. Não preciso me punir pelo passado nem me apressar por um futuro que não chegou. Preciso apenas viver, um dia de cada vez, e parar de esperar que alguma parte da minha solidão seja resgatada por outro alguém.

Só que, cá entre nós, esse debate interno é cansativo. Quase cômico, se não fosse tão real. Preciso trabalhar, tenho coisas pra fazer, e essa conversa fora de hora na minha cabeça não ajuda em nada.

Chega. Silêncio.

Por hoje, viver basta.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Nunca houve nada de errado comigo

Esse texto é dedicado à minha pequena eu.
Para uma menina de 7 ou 8 anos que vivia sozinha, não sabia fazer amigos, sofria bullying e acreditava que havia algo de errado com ela.

Pequena eu, o mundo sempre foi duro com quem, de alguma forma, está fora da curva. Você não tinha — e nunca teve — nada de errado. Se hoje, com 30 anos, eu tivesse o poder de voltar no tempo, te abraçaria forte e diria o quanto você sempre foi incrível. O quanto você foi forte. E o quanto, hoje, eu tenho orgulho de você.

Pode parecer estranho começar assim...
Bom, eu sempre deixei claro que sou uma pessoa fora do padrão. Nunca sei o que é certo dizer, não sei como devo me comportar, odeio contato físico e, às vezes, travo verdadeiras lutas internas entre o que penso, o que me ensinaram e no que realmente acredito.

Nunca foi fácil ser a criança diferente. Eu precisei, sozinha, observar ao redor, analisar o comportamento esperado e imitá-lo — só assim eu conseguia me encaixar minimamente no que a sociedade pedia. Mas me encaixar socialmente não significa que minha mente se encaixava. Essas batalhas internas são silenciosas, mas profundas... e costumam deixar marcas em quem luta.

E eu ainda carrego essas marcas. Algumas eu tatuei por cima. Ao olhar para elas, sinto um misto de orgulho e tristeza. Orgulho, porque atravessei esse vale. Tristeza, pela dor que senti durante o caminho.

Ser quem eu sou ainda me confunde. Mesmo hoje, essa confusão permanece.
Eu quero — e sempre vou querer — ser quem realmente sou. Não quero mais olhar ao redor e imitar o que os outros fazem só para me encaixar. Claro, aprendi que certos comportamentos e falas podem soar ríspidos, duros ou até mal-educados. Mas eu não vou vestir a roupa da moda só para ser aceita. Não vou fingir que amo as músicas do momento só para ser convidada para festas.

Eu sou quem eu sou. Me visto para me sentir bem. Escuto o que me faz bem. E, dentro dos limites do respeito e da educação, me comporto de forma alinhada com o que me faz bem.

É verdade: anos fingindo me fizeram perder, por um tempo, o senso de quem eu era. Mas, hoje, mergulhada nessa aventura de autodescoberta, tenho me encontrado. Me entendo muito mais do que há alguns anos.

Pequena eu, você foi incrível.
E hoje, sendo eu mesma, encontrei amigos, encontrei roupas que amo, músicas que me representam...
Encontrei nós no meio do caos.

E está tudo bem em ser fora da curva.
Você — nós — nunca fomos padrão.
E a força que temos hoje é algo para se orgulhar.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Eu não sei ser mãe

Dizem que, quando nasce uma criança, nasce também uma mãe. Mas o que raramente nos contam é que tornar-se mãe não significa, automaticamente, saber ser mãe. A maternidade não chega com manual, nem com respostas prontas. Ela se constrói no dia a dia, no improviso, na dúvida, no erro e na descoberta. É um caminho muitas vezes difícil — e, para algumas, até doloroso.

Eu ainda estou tentando entender o que significa ser mãe. Tive e ainda tenho, até certo ponto, o apoio da minha família. Mas esse apoio vem cheio de altos e baixos. É como se as pessoas que já passaram por esse processo — que já criaram seus filhos — acreditassem que sabem tudo, e que eu, por estar começando, não sou capaz de aprender por conta própria. Talvez elas saibam algumas coisas mesmo. Mas há outras que eu quero descobrir sozinha.

Tenho minhas ideias, opiniões e meu jeito... um pouco fora do comum. Nunca fui uma pessoa “normal” — seja lá o que isso signifique — e, por isso, nunca imaginei que seria uma mãe dentro dos padrões. Sempre quis ser uma mãe mais aberta, mais disponível, mas também alguém que respeita a individualidade da criança. Quero que minha filha descubra seus próprios gostos, suas próprias ideias, que se torne quem ela quiser ser.

Talvez eu pense assim porque não tive essa liberdade. Fui criada em um ambiente com regras rígidas, em que tudo era definido entre certo e errado com base em um contexto religioso. O certo era o que a igreja dizia; o errado era tudo que fugia disso. Cresci sem espaço para me descobrir, sem incentivo para me aceitar como sou. E, mesmo hoje, sendo uma mulher adulta, ainda é difícil lidar com os conflitos entre o que aprendi e o que realmente acredito.

Além disso, fui criada de forma extremamente dependente — e agora, dar meus próprios passos, criar minha filha com autonomia, tem sido um desafio imenso.

O que desejo para ela vai além de ensinar valores como caráter, compaixão e fidelidade. Quero que ela aprenda a se entender, a se descobrir, a se aceitar. Acima de tudo, quero que cresça livre e independente. E ainda assim, quero ser, enquanto eu viver, o porto seguro para o qual ela sempre poderá voltar.

Sei que tudo isso parece bonito — até meio poético ou brega — mas colocar em prática é outra história. Às vezes, me sinto perdida. Sou uma pessoa difícil, tenho meus limites, meus dias ruins, minhas palavras duras... e ainda moro na mesma casa que a minha mãe.

E esse é, talvez, um dos maiores desafios: ser mãe enquanto ainda sou filha. Na mesma casa. Sob o mesmo teto. Claro, minha mãe tem sua experiência, e não digo que ela tenha falhado — pelo contrário, reconheço o quanto ela foi, e ainda é, uma boa mãe. Mas eu quero criar minha filha do meu jeito. Da forma que considero justa, sensível, equilibrada. E não conforme o que os outros acham certo.

Eu não sei ser mãe. Mas quero aprender. Quero descobrir esse caminho dentro das minhas próprias ideias, das minhas crenças e da forma como vejo o mundo. Porque ninguém nasce sabendo. Descobrimos vivendo. E a maternidade é uma dessas jornadas avassaladoras — que nunca é igual para duas pessoas, nem para uma mesma mulher com filhos diferentes.

O que sei é que esse caminho pode ser cheio de surpresas. Lindo, transformador… e, ao mesmo tempo, profundamente doloroso.


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Os Tormentos de Estar Doente na Vida Adulta

Esses últimos dias têm sido bem complicados para mim. Muita coisa aconteceu em um curto espaço de tempo, e minha saúde acabou sentindo os efeitos — em grande parte, por causa de uma combinação de medicações. Já faço uso contínuo de remédios controlados para tratamento neurológico (não sei se já comentei isso por aqui), e, recentemente, precisei tomar antibióticos para tratar uma sinusite. A interação entre os medicamentos foi, literalmente, uma bomba para o meu corpo.

No meio desse caos, fui forçada a parar. Precisei ficar de cama por alguns dias, tentando me recuperar. E, nesse tempo em que o corpo enfraquece, a mente insiste em vagar. Me vi fazendo questionamentos um tanto filosóficos sobre quem eu sou e para onde estou indo.

Esse texto, aliás, nasceu sem muito propósito. Comecei a escrever com a esperança de que alguma inspiração surgisse e me desse um tema central. A verdade é que senti apenas a necessidade de colocar tudo para fora — escrever como forma de alívio.

Estar doente na fase adulta, ao contrário do que se pensa, não é apenas desconfortável. É quase um filme de terror. Quando criança, ficar doente também era ruim, claro — mas havia algo de reconfortante na atenção que se recebia. Sempre fui uma criança invisível, daquelas que não causavam preocupação, que passavam despercebidas até na própria história. E, justamente por isso, às vezes até achava interessante esse momentâneo protagonismo causado por uma febre ou dor de garganta.

Hoje em dia, no entanto, tudo mudou. Ficar de cama é um tormento. Detesto ser o centro das atenções, tenho mil pendências para resolver, trabalhos da faculdade acumulando, provas chegando... sem falar que sou mãe solo. Parar simplesmente não é uma opção viável. Mas, como nem tudo está sob meu controle, me resta tentar me recuperar da melhor forma possível para que a vida volte a andar.

É impressionante como a gente só percebe o valor da saúde quando a perde. No ritmo acelerado do cotidiano, esquecemos o quanto é essencial simplesmente estar bem. Como dizem os mais velhos: só damos valor quando perdemos.

E, pensando bem, aqui está o tema deste texto: os desafios de estar doente na fase adulta e o valor que damos às coisas apenas quando elas nos faltam. Esse assunto daria um texto longo, cheio de reflexões existenciais, críticas sociais, talvez até com algumas frases motivacionais. Mas, sendo bem sincera, não tenho energia para tanto hoje.

É uma noite de segunda-feira. Ainda sinto dores até nas pontas dos dedos. Só quero voltar a me sentir bem.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Silêncios que gritam e também escrevem

Silêncios... Uma única palavra, mas que carrega um peso imenso sobre tudo o que eu vivo.

Às vezes, o silêncio não está nas coisas que deixamos de dizer. Ele se esconde, sutilmente, nas palavras que foram ditas — mas que carregam entrelinhas, ecos, e sentimentos mal disfarçados. Fico me perguntando com certa frequência: o que significa, de fato, um silêncio? E mais... onde é que eu deposito os meus silêncios?

Existe até uma piada interna sobre mim mesma: costumo dizer que minha mente nunca se cala. Em todos os momentos, há dez versões de mim coexistindo, cada uma gritando algo diferente, todas em desacordo, todas tentando assumir o controle. É engraçado... mas também é verdade.

Não existe silêncio dentro de mim. O meu silêncio é apenas a superfície. Lá dentro, tudo se movimenta, colide, questiona. Meu silêncio não é ausência — é disfarce.

Às vezes, me pergunto: como lidar com alguém que simplesmente não consegue se acalmar, que precisa de movimento constante, que nunca relaxa por completo? Essa pergunta me acompanha há anos — e, honestamente, ainda não encontrei a resposta.

O silêncio faz morada no meu exterior. Ele aparece nas observações que faço, na forma como me retraio, na maneira como fico quieta nos cantos. Mas não habita minha mente. Ali, tudo gira em desordem. Um eterno turbilhão de pensamentos que se atropelam, se enfrentam, se misturam.

Confesso: tenho medo do meu silêncio. Porque é justamente nesses momentos que me sinto mais caótica por dentro. Quando o mundo ao redor se cala, parece que tudo dentro de mim grita ainda mais alto.

Não sou — e talvez nunca tenha sido — alguém que se abre com facilidade. Em algum ponto da história deste blog, devo ter comentado como é difícil para mim mostrar o que realmente sinto. Sempre fui uma pessoa que fala muito... mas raramente digo o que está, de fato, dentro de mim.

Sei bem: os meus silêncios são gritos não gritados.

Talvez tudo isso não faça sentido. Talvez seja só mais uma tentativa de entender algo que nem eu mesma consigo explicar. Mas, curiosamente, há instantes em que encontro uma pequena pausa nesse ruído interno: quando escrevo, como agora. Ou quando escuto aquela música da minha banda favorita. É nesses momentos que uma espécie de calmaria me visita — mesmo que seja breve, mesmo que seja frágil. Um instante de paz numa mente tão amontoada.

Gostaria de dizer que essa tranquilidade também mora na minha casa. Mas, se existe um lugar que está longe de ser silencioso, esse lugar é o meu lar. Tudo ali é embaralhado, atravessado, confuso. Invejável é quem encontra no próprio lar um refúgio. A mim, resta procurar o silêncio em outros cantos — na escrita, na música, nos pensamentos que, vez ou outra, conseguem se alinhar.

E assim sigo: tentando fazer as pazes com os meus silêncios — os que falo, os que escondo e os que ainda estou aprendendo a escutar.

domingo, 25 de maio de 2025

Como me ensinaram a me odiar (e como tento desaprender)

Quando eu era criança, sonhava em ser bailarina. Amava balé. Amava ainda mais ginástica rítmica. Era o meu grande sonho: subir nos palcos, competir, ser reconhecida dentro daquele universo que parecia tão mágico. Mas, como acontece com muitos sonhos infantis, esse também ficou pelo caminho. E tudo bem... ou, pelo menos, era isso que eu tentava acreditar. Na época, achei que aceitar a desistência era o suficiente. Mas, com o tempo, percebi que algumas coisas deixam marcas profundas — principalmente quando tocam direto na forma como a gente se enxerga.

Nunca fui o tipo de menina que as pessoas olham duas vezes na rua. Nunca fui considerada bonita, muito menos impactante. Sempre fui "a amiga estranha" de alguém linda demais. A comparação era constante — mesmo quando ninguém dizia nada, ela existia. E quando diziam… bem, doía.

Desde que me entendo por gente, estou acima do peso. Sempre tinha alguém para comentar sobre isso. Quando não era um parente, era alguém da ginástica. Com o tempo, aprendi que existia algo errado em mim. Não porque eu achava isso, mas porque me ensinaram assim. E foi aí que tudo começou a desandar.

Depois que deixei o balé e a ginástica, continuei lutando com o espelho — e, pior ainda, com a balança. A relação com meu corpo virou um campo de guerra. E, sem perceber, fui entrando em um transtorno alimentar. Primeiro, comecei a pular refeições. Um dia sem comer, depois dois. Até que vinha aquela explosão de ansiedade, raiva, frustração… e eu comia em dobro. E depois vomitava tudo. Era um ciclo. Um ciclo doentio, silencioso — e, por muito tempo, invisível até para mim mesma.

Todos esses anos de conflito com o corpo, somados aos traumas e à cobrança estética constante, criaram uma bagagem emocional que carrego até hoje. Me tornei uma adulta cheia de inseguranças. E, infelizmente, essa ainda é a minha realidade.

Gostaria de dizer que aprendi a lidar com minhas imperfeições. Que me aceitei. Que superei. Mas não seria verdade. Estou acima do peso. Luto diariamente contra a depressão. Tento fazer as coisas funcionarem sem entender muito bem como. Sei que não existe uma solução mágica. Resolver tudo de uma vez é impossível. Mas talvez, por partes, seja possível.

Uma parte de mim quer aprender a lidar com minhas imperfeições. Outra parte quer mudar tudo agora. Quero resultados imediatos, mas também sei que só emagrecer não resolve. Eu poderia perder 50kg e, mesmo assim, continuar sem conseguir me olhar no espelho. É difícil ter tanta coisa pra resolver e, ao mesmo tempo, se sentir estagnada — sem conseguir fazer algo que realmente traga algum efeito.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Respirar, escrever, continuar

Sigo comprometida em manter vivo um diário online, o qual não atualizo com muita frequência, mas, bem, aqui estou de volta apenas para colocar algumas palavras em dia.

Acho que não aconteceram muitas coisas significativas ao longo do último mês — apenas vivi. Um ponto positivo foi a volta às aulas da faculdade. Estou passando por um bom momento, com a mente e a agenda ocupadas. Apesar de toda a correria e, às vezes, de uma carga de estresse pesada, gosto de estar envolvida. Assim, me resta pouco tempo para pensar em coisas inúteis e ruins.

Algum tempo atrás, comentei sobre o meu envolvimento em um projeto pessoal. Bom, infelizmente, por conta dos afazeres acadêmicos, precisei pausar por um tempo. Mas isso não quer dizer, necessariamente, que desisti — apenas que está em pausa, até que eu consiga, novamente, ter tempo suficiente para desenvolvê-lo da melhor maneira possível.

É estranho escrever dessa forma, apenas pelo prazer de colocar sentimentos e a vida em algumas palavras. No último mês, escrevi apenas sobre artigos, listas de exercícios e temas relacionados à minha vida acadêmica.

Sinto, pela primeira vez em muito tempo, que estou onde deveria estar. Por mais que, às vezes, me venham ondas de incerteza — sobre minha idade, minha aparência ou minhas conquistas —, por mais difíceis que as coisas tenham sido nos últimos tempos, hoje sinto que estou caminhando para algum lugar.

Tenho começado a colocar planos em prática, buscado por objetivos que me aproximam mais da minha realidade. E não há nada mais prazeroso do que sentir que as coisas estão evoluindo — ainda que em passos lentos, estão evoluindo.

Qual seria o intuito desta postagem sem um assunto concreto? Bom, não há um objetivo definido — apenas escrever pelo simples prazer que é, para mim, escrever.

domingo, 20 de abril de 2025

Amar Sem Rótulos

A definição de amor, segundo opiniões pessoais, pode variar bastante de uma pessoa para outra. Na minha visão, o amor é um sentimento que te faz querer o bem de outra pessoa — algo que envolve fidelidade, respeito, empatia, segurança e, acima de tudo, o desejo genuíno de ver a felicidade de quem você ama.

Existem muitas formas de amar. Acho que já experimentei várias delas, e entre todas, o amor romântico foi o mais carrasco e doloroso.

Nunca me propus a falar sobre isso abertamente. Quer dizer, alguns amigos conhecem minhas opiniões, mas não sabem exatamente o que penso ou sinto de verdade.

Na adolescência, me apaixonei muitas vezes. Como dizem por aí, eu era muito "emocionada". Acreditava firmemente que amava todas aquelas pessoas, mas hoje percebo que era apenas paixão. Não amei nenhum deles de verdade.

Acredito que o amor entre amigos e entre amantes pode ser muito parecido. A diferença está na forma como nos relacionamos na intimidade e nos planos de vida. O amor entre amantes costuma ter uma intimidade mais profunda e envolve sonhos e projetos que são bem diferentes dos que temos com amigos.

Nossa, acho que toquei num assunto que renderia um texto enorme. Mas a verdade é que minha experiência com o amor é pequena. Amo muito meus amigos, mas romanticamente, só tive uma única experiência — e foi tortuosa, tóxica, deixou marcas que carrego até hoje. Já faz cinco anos que estou solteira, e desde então sinto dificuldade em me abrir para uma vida a dois.

Agora vem a parte problemática. Eu costumava sonhar com uma família. Fui criada em uma igreja, e esse desejo foi inserido em mim desde cedo. Mesmo depois de muitos anos longe da igreja, ainda era algo que eu queria. Quando finalmente me aventurei, me dediquei ao máximo: aguentei muita coisa, investi tempo, energia, amor. Fiz tudo o que podia. E ainda assim, tudo deu errado. Com o tempo, comecei a me questionar se aquele era realmente o meu sonho, ou apenas algo que me ensinaram a desejar. Eu acreditava de verdade que só seria feliz daquele jeito. Por isso, o fim do relacionamento me despedaçou — mesmo tendo sido um relacionamento ruim.

O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas foi a diferenciar o que eu realmente quero do que apenas fui convencida a querer.

E agora, aqui estou eu, refletindo e tentando entender onde esse texto vai me levar. No fundo, só queria dizer que me apaixonei por um amigo e ele não faz ideias dos sentimentos que tenho por ele. No início, achei que fosse algo passageiro, mas, com o tempo, percebi que o amo de verdade. Ele, por sua vez, segue sua vida de maneira independente, com outras relações e compromissos. Curiosamente, isso não me incomoda de forma direta. Ao contrário do que muitos podem esperar, a minha maior fonte de ciúmes não vem das outras pessoas com quem ele se relaciona, mas da convivência dele com outros amigos. Não entendo bem por que isso acontece.

O fato é que me preocupo com o bem-estar dele. Ele é a primeira pessoa para quem quero contar os absurdos do meu dia. Os sentimentos que carrego por ele se encaixam completamente na minha definição pessoal do que é amor. Mas, ao mesmo tempo, fico me perguntando: isso é amor romântico ou a mais sincera — e talvez a mais bela — de todas as amizades? Parte de mim sente atração física, mas não sei se quero um relacionamento que envolva algum tipo de intimidade física com ele. Também há a questão de termos opiniões um pouco diferentes sobre o que deveria ser um relacionamento e, sendo bem sincera, não acho que o sentimento seja recíproco da parte dele, pois não acredito que sou o tipo de pessoa por quem ele se sinta atraído de forma romântica. Acredito que a relação que temos sempre será de grandes e bons amigos.

Em última análise, o amor é um sentimento que deve ser vivido de maneira autêntica, sem pressões externas ou idealizações.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Reconstruindo em Silêncio

Desde a última vez que me propus a escrever algo pessoal, as coisas não mudaram muito por fora. Mas, por dentro, as transformações foram profundas.

Tenho me dedicado a um projeto específico. Não criei grandes expectativas sobre ele, mas acredito que algum resultado vai surgir — especialmente em termos de aprendizado e experiência.

Tenho tomado meus remédios da forma mais correta possível e, dentro das minhas limitações, venho tentando manter uma postura mais positiva.

Quando pensei neste blog, quando surgiu a ideia de transformar minha vida em palavras, me prometi que só escreveria quando sentisse uma necessidade verdadeira — ou quando algo me inspirasse de verdade.

Geralmente, essa necessidade ou inspiração aparece nos meus piores momentos, especialmente quando tudo parece prestes a desmoronar. E é aí que entra a escrita: como um alicerce, um respiro, um jeito de colocar as coisas no lugar.

Tenho refletido sobre isso — sobre o fato de que minha vontade de escrever quase sempre surge quando não estou bem — e, confesso, me senti meio patética por isso. Não quero, e nunca quis, ser aquela pessoa que escreve se colocando no papel de vítima. Até porque, sinceramente, não me vejo assim.

Nos meus momentos de fragilidade, por mais que eu pareça uma fruta machucada, sei que grande parte da culpa é minha. Eu me coloco, repetidamente, em situações que sei que vão me fazer mal. E admito: sou difícil de lidar.

Pronto. Agora o texto começou a perder um pouco o rumo daquilo que eu queria dizer. Mas tudo bem. A verdade é que eu quero escrever em todos os momentos da minha vida — não só nos ruins.

Hoje, por exemplo, estou num momento de calmaria. Não diria que é um bom momento, mas é um recomeço. Estou voltando a caminhar. E mesmo sem ter nada muito específico pra dizer, quis dedicar um tempo a algo que me faça bem.

Como já comentei, estou envolvida com um projeto e, mesmo sem grandes expectativas, estou feliz em ver uma ideia sair do papel e ganhar forma. Estou gostando de construir cada etapa, de tentar seguir um cronograma, de me envolver com o processo. E mesmo que não dê certo no fim, tudo isso já está me trazendo uma boa dose de aprendizado.

Acho que era isso que eu queria compartilhar. Hoje não vai ter melancolia, nem frases do tipo: “Alguém me salve e me leve pra casa”. Quer dizer… eu sou um pouco assim, sim. Mas também vivo num mundo em que, se escolhi continuar, preciso seguir tentando.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Às Vezes, Só Acontece

Às vezes a gente não tem como esperar isso, apenas acontece...

Respire fundo, é quarta, ainda tem mais alguns dias, fume mais alguns cigarros, olhe em volta... Estou sentada em uma cadeira de madeira, na minha frente uma mesa de mármore, a parede com uma janela mais velha que minha existência, à minha direita tem a parede com tomadas, à minha esquerda uma mesa de cabeceira e a cama, atrás de mim um ventilador velho, a porta e o guarda-roupas.

Olhe em volta de novo, repare nos detalhes, sinta o vento, a gatinha preta que dorme na janela. Olhe a pilha de travesseiros, a bagunça de cobertas, uma pilha de canetas e várias coisas amontoadas na mesa de cabeceira. Lá no quintal os cachorros latem e os pássaros cantam, na cozinha o chão precisa ser varrido e na sala os móveis precisam ser limpos.

Por que tudo está tão confuso? Eu estou em casa, supostamente descansando durante as minhas férias, mas eu queria estar na faculdade. Prefiro mil vezes toda aquela confusão, a pressão para estudar e ser inteligente. Mas eu tô aqui, procurando sentimentos, tentando sentir alguma coisa, justificando na minha cabeça que eu tenho 30 anos e não deveria mais me machucar.

Tem mais um cigarro na minha boca, tem mais pensamento ruim passando na minha cabeça, eu estou sozinha, meus amigos estão no trabalho e eu queria ser amiga da minha mãe, mas acho que ela não quer ser minha amiga, somos diferentes.

Quando eu vou parar de escrever textos sobre solidão e depressão? É quarta-feira e eu deveria fazer coisas úteis.

Acho que vou passear daqui a pouco. Não um passeio de verdade, só vou andar de ônibus e caminhar na praia. Espairecer a cabeça, enquanto eu sento em algum lugar para pensar na vida.

Eu não construí nada, eu queria desistir, mas costumava ter medo de desistir, sempre me agarrei a pontas de esperança, tenho medo da minha filha ficar só. Mas já está claro que ela não vai ficar só, eu não tenho ponta nenhuma de esperança e já estou perdendo o medo de desistir.

É quarta, olhe em volta mais uma vez, respire fundo, isso é mais uma crise, daqui a pouco passa.

terça-feira, 1 de abril de 2025

A nem tão grande experiência

Há alguns dias, entrei em uma nova fase da vida: a década dos 30. Não compartilhei sobre a experiência antes, pois, na verdade, o dia em si pareceu normal. Amanheceu uma terça-feira nublada, fiz algumas coisas, depois fui à praia, conversei com alguns amigos e comi um pequeno bolo que minha mãe fez. No sábado, saí com alguns amigos e foi bom e divertido.

Então, é isso: cheguei aos 30... Tenho a sensação de que essa é uma idade em que as coisas deveriam ser levadas mais a sério, e talvez muitas pessoas esperassem que eu tivesse conquistado coisas mais importantes ou relevantes. Não sei bem o que pensar ou esperar deste momento da minha vida.

Decidi que não vou fazer planos mirabolantes ou sonhar com coisas absurdas. Quero realizar os pequenos desejos, como concluir o curso superior e conquistar a independência. Depois, posso ver ou pensar no que quero para o futuro.

Não vou mentir sobre o meu estado de saúde mental, que ainda continua bem ruim. Tenho tentado lidar com situações que não sei até que ponto são suportáveis, mas tenho continuado. No último domingo, tive uma crise, e, no meio dela, pude entender melhor algumas coisas sobre mim e sobre as pessoas à minha volta.

Acho que, sobre a grande experiência que foi o meu aniversário, só tenho isso a declarar: não foi um evento épico, mas talvez tenha me dado uma fonte de inspiração para concluir desejos e lidar com crises de forma mais independente.

Obs.: Uma pequena lista de aprendizados que tive ao longo dos 30 anos de vida:

  1. Nem tudo acontece na hora e do jeito que planejamos.
  2. Amizades que não fazem questão de você não são suas amizades.
  3. Às vezes, a sua própria companhia é suficiente.
  4. A vida é cheia de altos e baixos; o melhor é saber curtir durante a fase alta.
  5. As coisas não são 100% perfeitas, mas nada é perfeito.
  6. Acima de tudo, a família é a coisa mais importante (vale lembrar que, às vezes, sua família não precisa ser quem te deu a vida, mas as pessoas que estão lá por você e te apoiam).