segunda-feira, 14 de julho de 2025

O acolhimento ofertado pelas máquinas

Recentemente, eu estava bem estressada, com muitas coisas na cabeça. E, de repente, senti uma necessidade urgente de conversar, de desabafar de alguma forma. Não tinha ninguém com quem sentar e dividir aquilo, e mesmo que tivesse, eu não sou muito de me abrir com facilidade. Então, cometi uma das maiores "atrocidades terapêuticas" da atualidade: escrevi um texto repleto de desabafos super pessoais e o coloquei numa Inteligência Artificial. Para minha surpresa, recebi uma resposta boa, acolhedora, sem julgamentos, que de alguma forma aliviou o peso daquele estresse pulsante.

Foi estranho. Me senti como nos filmes de ficção científica, em que as máquinas começam a substituir os humanos. Mas, ao mesmo tempo, fiquei preocupada e sem entender muito bem o que estava acontecendo. Talvez o meu desespero por um acolhimento rápido tenha sido o gatilho para eu buscar consolo em algo tão impessoal. Um texto tão pessoal, algo que com certeza eu nunca mostraria a ninguém, estava ali, em uma IA. Isso me fez perceber, de uma forma um tanto desconcertante, o quanto eu estava "desesperada" a ponto de pedir socorro a uma máquina.

E então veio a segunda preocupação: o que acontece com os textos pessoais que são publicados para uma IA? Será que alguém lê? Fica arquivado? Ou simplesmente é deletado, como se nunca tivesse existido? Eu, com minha curiosidade habitual, fui pesquisar sobre o assunto e descobri algumas coisas interessantes sobre o uso da IA como ferramenta terapêutica nos dias de hoje.

É claro que a Inteligência Artificial foi criada para realizar tarefas técnicas, principalmente no ambiente de trabalho. No entanto, no último ano, com a popularização dessas ferramentas, vimos uma expansão enorme do seu uso — seja para trabalhos acadêmicos, seja para criar imagens, organizar tarefas diárias ou até mesmo realizar pesquisas simples (afinal, quem nunca abriu a IA em vez de pesquisar no Google?). Com esse crescimento, não seria surpresa que as IAs também começassem a ser usadas em áreas psicológicas, e, de fato, já existem muitas pessoas que utilizam essas ferramentas como suporte terapêutico.

Li que alguns optam pela IA por diversos motivos. A principal delas é a disponibilidade 24 horas por dia. Além disso, a IA não julga o desabafo sincero, oferece conselhos que podem ser estimulantes e, claro, envolve um custo bem mais baixo.

Apesar de eu ter cometido esse "absurdo", acredito que não precisa nem ser dito o quão problemático pode ser substituir uma terapia convencional — com um profissional real, que estudou para estar ali, pronto para dar o apoio adequado — pela chamada "terapia virtual". Eu sou totalmente contra essa substituição. O psicólogo real não pode ser substituído por máquinas, que, em sua maioria, oferecem respostas pré-fabricadas e, no máximo, fazem pequenas alterações de palavras para que a resposta não soe tão robótica. É claro que sempre vamos encontrar profissionais ruins em qualquer área, e isso também acontece na psicologia. Por isso, é importante buscar referências e escolher com cuidado o profissional com quem vamos trabalhar.

No entanto, não quero terminar esse pensamento apenas criticando as IAs. Acredito que elas são ferramentas poderosas e valiosas, que, se usadas corretamente, podem ser de grande ajuda. Eu mesma as utilizo bastante, especialmente para trabalho e estudos. Tenho uma visão bem pragmática: tudo o que foi criado para ajudar pode ser muito útil, desde que seja usado de forma responsável. Mas, se você usar a IA apenas por preguiça, está apenas se tornando mais um alienado, escapando do esforço real de aprender, refletir e, principalmente, se conectar com outras pessoas.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Definição de Sozinho

Abro, mais uma vez, o aplicativo de relacionamentos — esse hábito quase automático que insiste em me lembrar que há algo fora do meu controle: o tempo passando, as pessoas se encontrando, e eu... bem, eu ainda aqui. Sozinha.

"Qual é, afinal, a definição de 'sozinho'?" — pergunto em silêncio, mas a dúvida pulsa alto demais. Não resisto e digito no buscador, como se o dicionário pudesse me oferecer algum consolo:

Sozinho – adj.
Absolutamente só. Isolado de tudo. Sem companhia. Acompanhado de apenas uma outra pessoa. Que não conta com auxílio material ou moral de ninguém. Não ajudado por ninguém. Que é único. Consigo mesmo.

Consigo mesmo.
Essa parte me pega.
Ser sozinho é ser... consigo mesmo?

Sento para escrever algo — talvez um texto, um desabafo, um pedaço de mim. Tento transformar essa solidão em força, em manifesto. Começo com a velha ideia de liberdade: a delícia de não ter que dar satisfações a ninguém, de poder ir e vir, de viver por si. Um egoísmo quase charmoso, desses que a gente aprende a defender como liberdade. Mas a verdade, mesmo que a contragosto, escapa entre os dedos: a solidão tem dias bons, sim, mas há noites em que tudo que eu queria era encostar a cabeça no ombro de alguém. Só isso. Não um grande amor, não um enredo cinematográfico. Apenas um silêncio compartilhado.

Não é desespero. É cansaço.

O problema é que minha única experiência de amor foi um naufrágio. Tóxico. Abusivo. Um amor que se disfarçava de necessidade, que me dopava com mentiras e me fazia acreditar que minha existência era pequena demais pra caber sozinha. Um amor que me ensinou a duvidar de mim. E como esquecer isso? Como confiar de novo quando tudo que se lembra é o gosto amargo de ser manipulada?

O tempo passou, é verdade. Mas a voz interna ainda cochicha que eu não sou digna de amor. Que não há nada em mim que valha ser escolhido. E quando, por acaso, alguém se aproxima, é como se um alarme disparasse. Me escondo no papel de amiga, fujo antes que algo floresça. Finjo indiferença — é mais seguro assim.

Às vezes me pergunto se essa vai ser minha história. Se é isso que sobrou pra mim: viver sozinha. E então, quase como uma resposta tardia, uma centelha acende. Talvez não seja uma sentença. Talvez seja só uma fase. Uma travessia. E quem sabe, sem eu perceber, alguém chegue. Não como salvador, mas como companhia. Alguém que escolha caminhar ao meu lado, e não me empurrar para o fundo.

Mas aí vem a realidade crua: já se vão quase seis anos solteira. Relações rápidas, passageiras, encontros que duram uma noite e somem pela manhã. Onde está o futuro nisso? Como reconhecer o que é real quando tudo se desfaz antes mesmo de começar?

Respiro fundo.

A verdade é que estou aqui. Sozinha. No sentido mais completo da palavra. E talvez seja hora de aceitar isso com menos drama e mais honestidade. Este é meu momento, minha versão de agora. Não preciso me punir pelo passado nem me apressar por um futuro que não chegou. Preciso apenas viver — um dia de cada vez — e parar de esperar que alguma parte da minha solidão seja resgatada por outro alguém.

Só que, cá entre nós, esse debate interno é cansativo. Quase cômico, se não fosse tão real. Preciso trabalhar, tenho coisas pra fazer, e essa conversa fora de hora na minha cabeça não ajuda em nada.

Chega. Silêncio.

Por hoje, viver basta.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Nunca houve nada de errado comigo

Esse texto é dedicado à minha pequena eu.
Para uma menina de 7 ou 8 anos que vivia sozinha, não sabia fazer amigos, sofria bullying e acreditava que havia algo de errado com ela.

Pequena eu, o mundo sempre foi duro com quem, de alguma forma, está fora da curva. Você não tinha — e nunca teve — nada de errado. Se hoje, com 30 anos, eu tivesse o poder de voltar no tempo, te abraçaria forte e diria o quanto você sempre foi incrível. O quanto você foi forte. E o quanto, hoje, eu tenho orgulho de você.

Pode parecer estranho começar assim...
Bom, eu sempre deixei claro que sou uma pessoa fora do padrão. Nunca sei o que é certo dizer, não sei como devo me comportar, odeio contato físico e, às vezes, travo verdadeiras lutas internas entre o que penso, o que me ensinaram e no que realmente acredito.

Nunca foi fácil ser a criança diferente. Eu precisei, sozinha, observar ao redor, analisar o comportamento esperado e imitá-lo — só assim eu conseguia me encaixar minimamente no que a sociedade pedia. Mas me encaixar socialmente não significa que minha mente se encaixava. Essas batalhas internas são silenciosas, mas profundas... e costumam deixar marcas em quem luta.

E eu ainda carrego essas marcas. Algumas eu tatuei por cima. Ao olhar para elas, sinto um misto de orgulho e tristeza. Orgulho, porque atravessei esse vale. Tristeza, pela dor que senti durante o caminho.

Ser quem eu sou ainda me confunde. Mesmo hoje, essa confusão permanece.
Eu quero — e sempre vou querer — ser quem realmente sou. Não quero mais olhar ao redor e imitar o que os outros fazem só para me encaixar. Claro, aprendi que certos comportamentos e falas podem soar ríspidos, duros ou até mal-educados. Mas eu não vou vestir a roupa da moda só para ser aceita. Não vou fingir que amo as músicas do momento só para ser convidada para festas.

Eu sou quem eu sou. Me visto para me sentir bem. Escuto o que me faz bem. E, dentro dos limites do respeito e da educação, me comporto de forma alinhada com o que me faz bem.

É verdade: anos fingindo me fizeram perder, por um tempo, o senso de quem eu era. Mas, hoje, mergulhada nessa aventura de autodescoberta, tenho me encontrado. Me entendo muito mais do que há alguns anos.

Pequena eu, você foi incrível.
E hoje, sendo eu mesma, encontrei amigos, encontrei roupas que amo, músicas que me representam...
Encontrei nós no meio do caos.

E está tudo bem em ser fora da curva.
Você — nós — nunca fomos padrão.
E a força que temos hoje é algo para se orgulhar.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Eu não sei ser mãe

Dizem que, quando nasce uma criança, nasce também uma mãe. Mas o que raramente nos contam é que tornar-se mãe não significa, automaticamente, saber ser mãe. A maternidade não chega com manual, nem com respostas prontas. Ela se constrói no dia a dia, no improviso, na dúvida, no erro e na descoberta. É um caminho muitas vezes difícil — e, para algumas, até doloroso.

Eu ainda estou tentando entender o que significa ser mãe. Tive e ainda tenho, até certo ponto, o apoio da minha família. Mas esse apoio vem cheio de altos e baixos. É como se as pessoas que já passaram por esse processo — que já criaram seus filhos — acreditassem que sabem tudo, e que eu, por estar começando, não sou capaz de aprender por conta própria. Talvez elas saibam algumas coisas mesmo. Mas há outras que eu quero descobrir sozinha.

Tenho minhas ideias, opiniões e meu jeito... um pouco fora do comum. Nunca fui uma pessoa “normal” — seja lá o que isso signifique — e, por isso, nunca imaginei que seria uma mãe dentro dos padrões. Sempre quis ser uma mãe mais aberta, mais disponível, mas também alguém que respeita a individualidade da criança. Quero que minha filha descubra seus próprios gostos, suas próprias ideias, que se torne quem ela quiser ser.

Talvez eu pense assim porque não tive essa liberdade. Fui criada em um ambiente com regras rígidas, em que tudo era definido entre certo e errado com base em um contexto religioso. O certo era o que a igreja dizia; o errado era tudo que fugia disso. Cresci sem espaço para me descobrir, sem incentivo para me aceitar como sou. E, mesmo hoje, sendo uma mulher adulta, ainda é difícil lidar com os conflitos entre o que aprendi e o que realmente acredito.

Além disso, fui criada de forma extremamente dependente — e agora, dar meus próprios passos, criar minha filha com autonomia, tem sido um desafio imenso.

O que desejo para ela vai além de ensinar valores como caráter, compaixão e fidelidade. Quero que ela aprenda a se entender, a se descobrir, a se aceitar. Acima de tudo, quero que cresça livre e independente. E ainda assim, quero ser, enquanto eu viver, o porto seguro para o qual ela sempre poderá voltar.

Sei que tudo isso parece bonito — até meio poético ou brega — mas colocar em prática é outra história. Às vezes, me sinto perdida. Sou uma pessoa difícil, tenho meus limites, meus dias ruins, minhas palavras duras... e ainda moro na mesma casa que a minha mãe.

E esse é, talvez, um dos maiores desafios: ser mãe enquanto ainda sou filha. Na mesma casa. Sob o mesmo teto. Claro, minha mãe tem sua experiência, e não digo que ela tenha falhado — pelo contrário, reconheço o quanto ela foi, e ainda é, uma boa mãe. Mas eu quero criar minha filha do meu jeito. Da forma que considero justa, sensível, equilibrada. E não conforme o que os outros acham certo.

Eu não sei ser mãe. Mas quero aprender. Quero descobrir esse caminho dentro das minhas próprias ideias, das minhas crenças e da forma como vejo o mundo. Porque ninguém nasce sabendo. Descobrimos vivendo. E a maternidade é uma dessas jornadas avassaladoras — que nunca é igual para duas pessoas, nem para uma mesma mulher com filhos diferentes.

O que sei é que esse caminho pode ser cheio de surpresas. Lindo, transformador… e, ao mesmo tempo, profundamente doloroso.


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Os Tormentos de Estar Doente na Vida Adulta

Esses últimos dias têm sido bem complicados para mim. Muita coisa aconteceu em um curto espaço de tempo, e minha saúde acabou sentindo os efeitos — em grande parte, por causa de uma combinação de medicações. Já faço uso contínuo de remédios controlados para tratamento neurológico (não sei se já comentei isso por aqui), e, recentemente, precisei tomar antibióticos para tratar uma sinusite. A interação entre os medicamentos foi, literalmente, uma bomba para o meu corpo.

No meio desse caos, fui forçada a parar. Precisei ficar de cama por alguns dias, tentando me recuperar. E, nesse tempo em que o corpo enfraquece, a mente insiste em vagar. Me vi fazendo questionamentos um tanto filosóficos sobre quem eu sou e para onde estou indo.

Esse texto, aliás, nasceu sem muito propósito. Comecei a escrever com a esperança de que alguma inspiração surgisse e me desse um tema central. A verdade é que senti apenas a necessidade de colocar tudo para fora — escrever como forma de alívio.

Estar doente na fase adulta, ao contrário do que se pensa, não é apenas desconfortável. É quase um filme de terror. Quando criança, ficar doente também era ruim, claro — mas havia algo de reconfortante na atenção que se recebia. Sempre fui uma criança invisível, daquelas que não causavam preocupação, que passavam despercebidas até na própria história. E, justamente por isso, às vezes até achava interessante esse momentâneo protagonismo causado por uma febre ou dor de garganta.

Hoje em dia, no entanto, tudo mudou. Ficar de cama é um tormento. Detesto ser o centro das atenções, tenho mil pendências para resolver, trabalhos da faculdade acumulando, provas chegando... sem falar que sou mãe solo. Parar simplesmente não é uma opção viável. Mas, como nem tudo está sob meu controle, me resta tentar me recuperar da melhor forma possível para que a vida volte a andar.

É impressionante como a gente só percebe o valor da saúde quando a perde. No ritmo acelerado do cotidiano, esquecemos o quanto é essencial simplesmente estar bem. Como dizem os mais velhos: só damos valor quando perdemos.

E, pensando bem, aqui está o tema deste texto: os desafios de estar doente na fase adulta e o valor que damos às coisas apenas quando elas nos faltam. Esse assunto daria um texto longo, cheio de reflexões existenciais, críticas sociais, talvez até com algumas frases motivacionais. Mas, sendo bem sincera, não tenho energia para tanto hoje.

É uma noite de segunda-feira. Ainda sinto dores até nas pontas dos dedos. Só quero voltar a me sentir bem.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Silêncios que gritam e também escrevem

Silêncios... Uma única palavra, mas que carrega um peso imenso sobre tudo o que eu vivo.

Às vezes, o silêncio não está nas coisas que deixamos de dizer. Ele se esconde, sutilmente, nas palavras que foram ditas — mas que carregam entrelinhas, ecos, e sentimentos mal disfarçados. Fico me perguntando com certa frequência: o que significa, de fato, um silêncio? E mais... onde é que eu deposito os meus silêncios?

Existe até uma piada interna sobre mim mesma: costumo dizer que minha mente nunca se cala. Em todos os momentos, há dez versões de mim coexistindo, cada uma gritando algo diferente, todas em desacordo, todas tentando assumir o controle. É engraçado... mas também é verdade.

Não existe silêncio dentro de mim. O meu silêncio é apenas a superfície. Lá dentro, tudo se movimenta, colide, questiona. Meu silêncio não é ausência — é disfarce.

Às vezes, me pergunto: como lidar com alguém que simplesmente não consegue se acalmar, que precisa de movimento constante, que nunca relaxa por completo? Essa pergunta me acompanha há anos — e, honestamente, ainda não encontrei a resposta.

O silêncio faz morada no meu exterior. Ele aparece nas observações que faço, na forma como me retraio, na maneira como fico quieta nos cantos. Mas não habita minha mente. Ali, tudo gira em desordem. Um eterno turbilhão de pensamentos que se atropelam, se enfrentam, se misturam.

Confesso: tenho medo do meu silêncio. Porque é justamente nesses momentos que me sinto mais caótica por dentro. Quando o mundo ao redor se cala, parece que tudo dentro de mim grita ainda mais alto.

Não sou — e talvez nunca tenha sido — alguém que se abre com facilidade. Em algum ponto da história deste blog, devo ter comentado como é difícil para mim mostrar o que realmente sinto. Sempre fui uma pessoa que fala muito... mas raramente digo o que está, de fato, dentro de mim.

Sei bem: os meus silêncios são gritos não gritados.

Talvez tudo isso não faça sentido. Talvez seja só mais uma tentativa de entender algo que nem eu mesma consigo explicar. Mas, curiosamente, há instantes em que encontro uma pequena pausa nesse ruído interno: quando escrevo, como agora. Ou quando escuto aquela música da minha banda favorita. É nesses momentos que uma espécie de calmaria me visita — mesmo que seja breve, mesmo que seja frágil. Um instante de paz numa mente tão amontoada.

Gostaria de dizer que essa tranquilidade também mora na minha casa. Mas, se existe um lugar que está longe de ser silencioso, esse lugar é o meu lar. Tudo ali é embaralhado, atravessado, confuso. Invejável é quem encontra no próprio lar um refúgio. A mim, resta procurar o silêncio em outros cantos — na escrita, na música, nos pensamentos que, vez ou outra, conseguem se alinhar.

E assim sigo: tentando fazer as pazes com os meus silêncios — os que falo, os que escondo e os que ainda estou aprendendo a escutar.

domingo, 25 de maio de 2025

Como me ensinaram a me odiar (e como tento desaprender)

Quando eu era criança, sonhava em ser bailarina. Amava balé. Amava ainda mais ginástica rítmica. Era o meu grande sonho: subir nos palcos, competir, ser reconhecida dentro daquele universo que parecia tão mágico. Mas, como acontece com muitos sonhos infantis, esse também ficou pelo caminho. E tudo bem... ou, pelo menos, era isso que eu tentava acreditar. Na época, achei que aceitar a desistência era o suficiente. Mas, com o tempo, percebi que algumas coisas deixam marcas profundas — principalmente quando tocam direto na forma como a gente se enxerga.

Nunca fui o tipo de menina que as pessoas olham duas vezes na rua. Nunca fui considerada bonita, muito menos impactante. Sempre fui "a amiga estranha" de alguém linda demais. A comparação era constante — mesmo quando ninguém dizia nada, ela existia. E quando diziam… bem, doía.

Desde que me entendo por gente, estou acima do peso. Sempre tinha alguém para comentar sobre isso. Quando não era um parente, era alguém da ginástica. Com o tempo, aprendi que existia algo errado em mim. Não porque eu achava isso, mas porque me ensinaram assim. E foi aí que tudo começou a desandar.

Depois que deixei o balé e a ginástica, continuei lutando com o espelho — e, pior ainda, com a balança. A relação com meu corpo virou um campo de guerra. E, sem perceber, fui entrando em um transtorno alimentar. Primeiro, comecei a pular refeições. Um dia sem comer, depois dois. Até que vinha aquela explosão de ansiedade, raiva, frustração… e eu comia em dobro. E depois vomitava tudo. Era um ciclo. Um ciclo doentio, silencioso — e, por muito tempo, invisível até para mim mesma.

Todos esses anos de conflito com o corpo, somados aos traumas e à cobrança estética constante, criaram uma bagagem emocional que carrego até hoje. Me tornei uma adulta cheia de inseguranças. E, infelizmente, essa ainda é a minha realidade.

Gostaria de dizer que aprendi a lidar com minhas imperfeições. Que me aceitei. Que superei. Mas não seria verdade. Estou acima do peso. Luto diariamente contra a depressão. Tento fazer as coisas funcionarem sem entender muito bem como. Sei que não existe uma solução mágica. Resolver tudo de uma vez é impossível. Mas talvez, por partes, seja possível.

Uma parte de mim quer aprender a lidar com minhas imperfeições. Outra parte quer mudar tudo agora. Quero resultados imediatos, mas também sei que só emagrecer não resolve. Eu poderia perder 50kg e, mesmo assim, continuar sem conseguir me olhar no espelho. É difícil ter tanta coisa pra resolver e, ao mesmo tempo, se sentir estagnada — sem conseguir fazer algo que realmente traga algum efeito.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Respirar, escrever, continuar

Sigo comprometida em manter vivo um diário online, o qual não atualizo com muita frequência, mas, bem, aqui estou de volta apenas para colocar algumas palavras em dia.

Acho que não aconteceram muitas coisas significativas ao longo do último mês — apenas vivi. Um ponto positivo foi a volta às aulas da faculdade. Estou passando por um bom momento, com a mente e a agenda ocupadas. Apesar de toda a correria e, às vezes, de uma carga de estresse pesada, gosto de estar envolvida. Assim, me resta pouco tempo para pensar em coisas inúteis e ruins.

Algum tempo atrás, comentei sobre o meu envolvimento em um projeto pessoal. Bom, infelizmente, por conta dos afazeres acadêmicos, precisei pausar por um tempo. Mas isso não quer dizer, necessariamente, que desisti — apenas que está em pausa, até que eu consiga, novamente, ter tempo suficiente para desenvolvê-lo da melhor maneira possível.

É estranho escrever dessa forma, apenas pelo prazer de colocar sentimentos e a vida em algumas palavras. No último mês, escrevi apenas sobre artigos, listas de exercícios e temas relacionados à minha vida acadêmica.

Sinto, pela primeira vez em muito tempo, que estou onde deveria estar. Por mais que, às vezes, me venham ondas de incerteza — sobre minha idade, minha aparência ou minhas conquistas —, por mais difíceis que as coisas tenham sido nos últimos tempos, hoje sinto que estou caminhando para algum lugar.

Tenho começado a colocar planos em prática, buscado por objetivos que me aproximam mais da minha realidade. E não há nada mais prazeroso do que sentir que as coisas estão evoluindo — ainda que em passos lentos, estão evoluindo.

Qual seria o intuito desta postagem sem um assunto concreto? Bom, não há um objetivo definido — apenas escrever pelo simples prazer que é, para mim, escrever.

domingo, 20 de abril de 2025

Amar Sem Rótulos

A definição de amor, segundo opiniões pessoais, pode variar bastante de uma pessoa para outra. Na minha visão, o amor é um sentimento que te faz querer o bem de outra pessoa — algo que envolve fidelidade, respeito, empatia, segurança e, acima de tudo, o desejo genuíno de ver a felicidade de quem você ama.

Existem muitas formas de amar. Acho que já experimentei várias delas, e entre todas, o amor romântico foi o mais carrasco e doloroso.

Nunca me propus a falar sobre isso abertamente. Quer dizer, alguns amigos conhecem minhas opiniões, mas não sabem exatamente o que penso ou sinto de verdade.

Na adolescência, me apaixonei muitas vezes. Como dizem por aí, eu era muito "emocionada". Acreditava firmemente que amava todas aquelas pessoas, mas hoje percebo que era apenas paixão. Não amei nenhum deles de verdade.

Acredito que o amor entre amigos e entre amantes pode ser muito parecido. A diferença está na forma como nos relacionamos na intimidade e nos planos de vida. O amor entre amantes costuma ter uma intimidade mais profunda e envolve sonhos e projetos que são bem diferentes dos que temos com amigos.

Nossa, acho que toquei num assunto que renderia um texto enorme. Mas a verdade é que minha experiência com o amor é pequena. Amo muito meus amigos, mas romanticamente, só tive uma única experiência — e foi tortuosa, tóxica, deixou marcas que carrego até hoje. Já faz cinco anos que estou solteira, e desde então sinto dificuldade em me abrir para uma vida a dois.

Agora vem a parte problemática. Eu costumava sonhar com uma família. Fui criada em uma igreja, e esse desejo foi inserido em mim desde cedo. Mesmo depois de muitos anos longe da igreja, ainda era algo que eu queria. Quando finalmente me aventurei, me dediquei ao máximo: aguentei muita coisa, investi tempo, energia, amor. Fiz tudo o que podia. E ainda assim, tudo deu errado. Com o tempo, comecei a me questionar se aquele era realmente o meu sonho, ou apenas algo que me ensinaram a desejar. Eu acreditava de verdade que só seria feliz daquele jeito. Por isso, o fim do relacionamento me despedaçou — mesmo tendo sido um relacionamento ruim.

O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas foi a diferenciar o que eu realmente quero do que apenas fui convencida a querer.

E agora, aqui estou eu, refletindo e tentando entender onde esse texto vai me levar. No fundo, só queria dizer que me apaixonei por um amigo e ele não faz ideias dos sentimentos que tenho por ele. No início, achei que fosse algo passageiro, mas, com o tempo, percebi que o amo de verdade. Ele, por sua vez, segue sua vida de maneira independente, com outras relações e compromissos. Curiosamente, isso não me incomoda de forma direta. Ao contrário do que muitos podem esperar, a minha maior fonte de ciúmes não vem das outras pessoas com quem ele se relaciona, mas da convivência dele com outros amigos. Não entendo bem por que isso acontece.

O fato é que me preocupo com o bem-estar dele. Ele é a primeira pessoa para quem quero contar os absurdos do meu dia. Os sentimentos que carrego por ele se encaixam completamente na minha definição pessoal do que é amor. Mas, ao mesmo tempo, fico me perguntando: isso é amor romântico ou a mais sincera — e talvez a mais bela — de todas as amizades? Parte de mim sente atração física, mas não sei se quero um relacionamento que envolva algum tipo de intimidade física com ele. Também há a questão de termos opiniões um pouco diferentes sobre o que deveria ser um relacionamento e, sendo bem sincera, não acho que o sentimento seja recíproco da parte dele, pois não acredito que sou o tipo de pessoa por quem ele se sinta atraído de forma romântica. Acredito que a relação que temos sempre será de grandes e bons amigos.

Em última análise, o amor é um sentimento que deve ser vivido de maneira autêntica, sem pressões externas ou idealizações.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Reconstruindo em Silêncio

Desde a última vez que me propus a escrever algo pessoal, as coisas não mudaram muito por fora. Mas, por dentro, as transformações foram profundas.

Tenho me dedicado a um projeto específico. Não criei grandes expectativas sobre ele, mas acredito que algum resultado vai surgir — especialmente em termos de aprendizado e experiência.

Tenho tomado meus remédios da forma mais correta possível e, dentro das minhas limitações, venho tentando manter uma postura mais positiva.

Quando pensei neste blog, quando surgiu a ideia de transformar minha vida em palavras, me prometi que só escreveria quando sentisse uma necessidade verdadeira — ou quando algo me inspirasse de verdade.

Geralmente, essa necessidade ou inspiração aparece nos meus piores momentos, especialmente quando tudo parece prestes a desmoronar. E é aí que entra a escrita: como um alicerce, um respiro, um jeito de colocar as coisas no lugar.

Tenho refletido sobre isso — sobre o fato de que minha vontade de escrever quase sempre surge quando não estou bem — e, confesso, me senti meio patética por isso. Não quero, e nunca quis, ser aquela pessoa que escreve se colocando no papel de vítima. Até porque, sinceramente, não me vejo assim.

Nos meus momentos de fragilidade, por mais que eu pareça uma fruta machucada, sei que grande parte da culpa é minha. Eu me coloco, repetidamente, em situações que sei que vão me fazer mal. E admito: sou difícil de lidar.

Pronto. Agora o texto começou a perder um pouco o rumo daquilo que eu queria dizer. Mas tudo bem. A verdade é que eu quero escrever em todos os momentos da minha vida — não só nos ruins.

Hoje, por exemplo, estou num momento de calmaria. Não diria que é um bom momento, mas é um recomeço. Estou voltando a caminhar. E mesmo sem ter nada muito específico pra dizer, quis dedicar um tempo a algo que me faça bem.

Como já comentei, estou envolvida com um projeto e, mesmo sem grandes expectativas, estou feliz em ver uma ideia sair do papel e ganhar forma. Estou gostando de construir cada etapa, de tentar seguir um cronograma, de me envolver com o processo. E mesmo que não dê certo no fim, tudo isso já está me trazendo uma boa dose de aprendizado.

Acho que era isso que eu queria compartilhar. Hoje não vai ter melancolia, nem frases do tipo: “Alguém me salve e me leve pra casa”. Quer dizer… eu sou um pouco assim, sim. Mas também vivo num mundo em que, se escolhi continuar, preciso seguir tentando.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Às Vezes, Só Acontece

Às vezes a gente não tem como esperar isso, apenas acontece...

Respire fundo, é quarta, ainda tem mais alguns dias, fume mais alguns cigarros, olhe em volta... Estou sentada em uma cadeira de madeira, na minha frente uma mesa de mármore, a parede com uma janela mais velha que minha existência, à minha direita tem a parede com tomadas, à minha esquerda uma mesa de cabeceira e a cama, atrás de mim um ventilador velho, a porta e o guarda-roupas.

Olhe em volta de novo, repare nos detalhes, sinta o vento, a gatinha preta que dorme na janela. Olhe a pilha de travesseiros, a bagunça de cobertas, uma pilha de canetas e várias coisas amontoadas na mesa de cabeceira. Lá no quintal os cachorros latem e os pássaros cantam, na cozinha o chão precisa ser varrido e na sala os móveis precisam ser limpos.

Por que tudo está tão confuso? Eu estou em casa, supostamente descansando durante as minhas férias, mas eu queria estar na faculdade. Prefiro mil vezes toda aquela confusão, a pressão para estudar e ser inteligente. Mas eu tô aqui, procurando sentimentos, tentando sentir alguma coisa, justificando na minha cabeça que eu tenho 30 anos e não deveria mais me machucar.

Tem mais um cigarro na minha boca, tem mais pensamento ruim passando na minha cabeça, eu estou sozinha, meus amigos estão no trabalho e eu queria ser amiga da minha mãe, mas acho que ela não quer ser minha amiga, somos diferentes.

Quando eu vou parar de escrever textos sobre solidão e depressão? É quarta-feira e eu deveria fazer coisas úteis.

Acho que vou passear daqui a pouco. Não um passeio de verdade, só vou andar de ônibus e caminhar na praia. Espairecer a cabeça, enquanto eu sento em algum lugar para pensar na vida.

Eu não construí nada, eu queria desistir, mas costumava ter medo de desistir, sempre me agarrei a pontas de esperança, tenho medo da minha filha ficar só. Mas já está claro que ela não vai ficar só, eu não tenho ponta nenhuma de esperança e já estou perdendo o medo de desistir.

É quarta, olhe em volta mais uma vez, respire fundo, isso é mais uma crise, daqui a pouco passa.

terça-feira, 1 de abril de 2025

A nem tão grande experiência

Há alguns dias, entrei em uma nova fase da vida: a década dos 30. Não compartilhei sobre a experiência antes, pois, na verdade, o dia em si pareceu normal. Amanheceu uma terça-feira nublada, fiz algumas coisas, depois fui à praia, conversei com alguns amigos e comi um pequeno bolo que minha mãe fez. No sábado, saí com alguns amigos e foi bom e divertido.

Então, é isso: cheguei aos 30... Tenho a sensação de que essa é uma idade em que as coisas deveriam ser levadas mais a sério, e talvez muitas pessoas esperassem que eu tivesse conquistado coisas mais importantes ou relevantes. Não sei bem o que pensar ou esperar deste momento da minha vida.

Decidi que não vou fazer planos mirabolantes ou sonhar com coisas absurdas. Quero realizar os pequenos desejos, como concluir o curso superior e conquistar a independência. Depois, posso ver ou pensar no que quero para o futuro.

Não vou mentir sobre o meu estado de saúde mental, que ainda continua bem ruim. Tenho tentado lidar com situações que não sei até que ponto são suportáveis, mas tenho continuado. No último domingo, tive uma crise, e, no meio dela, pude entender melhor algumas coisas sobre mim e sobre as pessoas à minha volta.

Acho que, sobre a grande experiência que foi o meu aniversário, só tenho isso a declarar: não foi um evento épico, mas talvez tenha me dado uma fonte de inspiração para concluir desejos e lidar com crises de forma mais independente.

Obs.: Uma pequena lista de aprendizados que tive ao longo dos 30 anos de vida:

  1. Nem tudo acontece na hora e do jeito que planejamos.
  2. Amizades que não fazem questão de você não são suas amizades.
  3. Às vezes, a sua própria companhia é suficiente.
  4. A vida é cheia de altos e baixos; o melhor é saber curtir durante a fase alta.
  5. As coisas não são 100% perfeitas, mas nada é perfeito.
  6. Acima de tudo, a família é a coisa mais importante (vale lembrar que, às vezes, sua família não precisa ser quem te deu a vida, mas as pessoas que estão lá por você e te apoiam).

domingo, 23 de março de 2025

O dia seguinte

O dia seguinte sempre é o pior... principalmente quando as pessoas não têm conhecimento do que aconteceu, porque tudo isso se torna sua luta interna solitária.

Levantar, tomar o café, olhar as pessoas à sua volta, arrumar o que conseguir, e, enquanto tudo isso acontece, dentro da cabeça continua um grande turbilhão de pensamentos.

Uns dias atrás, eu estava super animada, escrevendo sobre continuar a estrada e fazer a vida melhor. Mas o dia de ontem foi pesado, senti que eu não fui ouvida, que cada sentimento que eu tenho foi invalidado ou ignorado de alguma forma.

Ao longo da madrugada, em meio a crise, parecia que as paredes estavam caindo por cima de mim. Enquanto todos dormiam, saí pela rua. Estava uma chuva fina e eu estava vestindo pijama velho, descalça e fumando um cigarro. Meus amigos estavam numa balada qualquer, eu queria ir até eles, mas senti que seria injusto pesar o clima e a diversão de outras pessoas com os meus problemas.

Eu estava me perguntando: quem está me procurando agora? Eu sei que não deveria me apegar à ideia de que alguém deveria me procurar, mas, nossa, como é horrível sentir aquela solidão. Queria que alguém me pegasse pela mão e me levasse para casa. Mas eu voltei sozinha, andando meio arrastada, era um choro silencioso, misturando a água da chuva com as lágrimas. Então, eu me dei conta de que parte de mim já desistiu e eu apenas me arrasto por aí.

Nunca as coisas dão certo, eu nunca faço escolhas certas, eu sou uma grande falha. Eu deveria ter me jogado na frente daquele carro anos atrás, e ontem eu queria um carro para ter novamente a oportunidade. Aquela necessidade de fazer sumir a dor abusiva dentro de mim, estava sufocante a forma como cada coisa me machucava e que eu queria apenas parar a dor. Claro que minha cabeça optou por desistir, porque eu tentava olhar para o futuro e nada parecia algo agradável. Eu estou tentando entender essa vida.

Entrei em casa, tomei um banho e então, estava tão cansada, deitei e dormi.

O dia seguinte costuma ser mesmo o pior, ainda mais quando se enfrenta tudo sozinha... Eu não sei o que esperar, não sei se devo esperar alguma coisa.

terça-feira, 18 de março de 2025

Transformando Emoções em Ações

Sigo no meu roteiro de reflexões pessoais e escrita sobre meus propósitos. Como já expressei em momentos anteriores, dar palavras aos sentimentos que tenho me ajuda a dar escape às coisas incessantes que se passam dentro da minha cabeça.

Estive pensando em montar um plano para postagens, fazer desse canto um projeto pessoal e desenvolver algo legal que seja sobre mim. Talvez eu tenha tido essas inspirações devido ao fato de que, em breve, faço aniversário e sinto que investi muito pouco em mim mesma.

Entrando nesse assunto sobre investimento pessoal, também comecei a me dar conta do anseio que tenho de me desenvolver. Sempre fiquei paralisada pelo medo de fracassar nos meus projetos pessoais. Houve situações em que cheguei a começar, mas nunca fui muito adiante. Sou muito movida pela ideia de recomeços; acho que o início das coisas é bem cativante, emocionante, e é o momento em que o fogo pela paixão do projeto está mais aceso. No entanto, com o tempo, acabo deixando toda essa emoção passar e admito que tenho sérios problemas em dar continuidade. Existem muitos motivos que me fazem parar as coisas, mas posso elencar o motivo principal como o medo que sinto do fracasso.

Enfim, percebi que a disciplina é a ponte entre os objetivos e os resultados. O que realmente me falta é a disciplina: estabelecer uma rotina consistente. Talvez o motivo dessa dificuldade seja porque sempre tento realizar uma super mudança, onde toda a minha vida mude de uma vez. Com o tempo, tenho me dado conta de que a chave do sucesso está nas pequenas ações diárias, que, somadas, se transformam em grandes conquistas. Ou seja, não é necessária uma super mudança em toda a minha vida; são as pequenas coisas que posso começar a realizar por mim mesma que vão dar vida ao meu sucesso futuro.

Voltando à vontade de iniciar um projeto pessoal, comecei recentemente a pensar sobre as coisas que gosto e desgosto, sobre as coisas que sinto vontade de transformar em uma carreira e as coisas que são do meu entretenimento. Acho que já comecei a ter uma luz e, dessa vez, não vou "recomeçar algo". Já estou em um caminho, então vou investir nesse caminho em que estou. Vou tentar ao máximo me dedicar, mesmo que em alguns momentos toda a chama da emoção se transforme em brasa. Não tenho intenção de deixar tudo se apagar."


domingo, 16 de março de 2025

O Eco da Madrugada

Um cigarro na boca, levemente bêbada, cabelo bagunçado e a camisa de uma banda pouco conhecida rasgada, ela está sentada na beira da avenida, observando os carros que passam pela madrugada. Tão despedaçada, com ideias meio tortas. Algumas pessoas acham que a vida dela não vale muita coisa e que sua existência não acrescenta nada a esse mundo.

Existe beleza nela, sonhos e sentimentos, existe tanta vontade de viver, mas o mundo já decretou que ela não deveria existir. Ela é uma falha, e o que quer que essa não tão jovem mulher decida, não vai valer a pena. Todos a encorajam a desistir, porque o seu tempo já se foi e não há mais nada que se possa fazer para mudar.

Quando jovem, existiam uma infinidade de oportunidades, mas sabe como é: decida rápido, decida certo, e quando envelhecer, não haverá mais nada que se possa fazer.

Ela permanece ali, na beira da avenida, os olhos vagos acompanhando os faróis dos carros que cortam a noite. O mundo ao seu redor parece tão distante, mas, ao mesmo tempo, tão próximo, como se pudesse tocá-lo se estendesse a mão. Cada pensamento é uma luta, cada suspiro, uma tentativa de compreender onde se perdeu.

E, no entanto, em um momento de clareza, ela percebe algo: o tempo não é um inimigo, mas um aliado. O que ela imaginava ser a falha de sua existência era, na verdade, uma chance de recomeçar. Não importa o quanto tenha se perdido, ainda há algo a ser encontrado. No fundo, ela sabe que a vida não se define pelo que dizem, nem pelo que os outros esperam. Ela é mais que a opinião do mundo.

O vento começa a soprar mais forte, bagunçando ainda mais seu cabelo, como se quisesse dar-lhe coragem. Ela se levanta, com um esforço quase imperceptível, mas com a força de quem sabe que, apesar dos pesares, a caminhada não precisa ser feita sozinha. A avenida, antes vazia de possibilidades, agora se abre à sua frente, e ela decide, enfim, dar o primeiro passo.

Algumas coisas podem parecer irreparáveis, mas há sempre uma chance para quem ainda acredita no poder de recomeçar. O mundo pode ter dito que ela não deveria existir, mas ela decidiu que vai continuar existindo, de uma forma que só ela entende. E com o coração um pouco mais leve, ela segue, porque, no fim, o único julgamento que importa é o seu.


quarta-feira, 12 de março de 2025

Quando a Vida Não Segue o Roteiro

Montar textos, colocar em palavras momentos, sentimentos e histórias sempre foi um prazer, um encanto e, por algumas vezes, uma necessidade. Escrever é um ato revolucionário, é incrível, é cativante. Escrever é arte, é dar vida, é informar. Escrever pode ser mil e uma coisas; pode ser um universo e, às vezes, pode ser uma célula.

Quando comecei a escrever um blog solitário, não foi com a intenção de revelar a terceiros, porque em nenhum momento quis me comprometer com algo tão sério; talvez eu apenas quisesse me abrir. Porém, já fazem meses que não me dedico a escrever pelo prazer e pela rebeldia de escrever. Talvez tenha sido a falta de tempo ou a falta de inspiração. São tantos afazeres que acabo deixando o ato de escrever de lado.

Este mês, meu aniversário está chegando, e completo mais um ciclo, encerrando uma jornada e iniciando uma nova. Eu havia pensado em escrever sobre o quanto comecei o ano extremamente empolgada e disposta a dar vida aos meus sonhos. Tive expectativas de colocar em prática toda uma vida de vontades, planejei viagens, procurei informações sobre como finalmente tirar a CNH e comecei a pensar em formas de conquistar a tão sonhada independência.

Hoje, venho escrever sobre como lidar com o sentimento de quando os planos não saem exatamente como esperamos.

Para conseguir entender melhor isso, começaremos do início. Ao longo de toda a minha vida, tive alguns sintomas, digamos assim, situações que não me preocupavam. Às vezes, perdia a memória, às vezes, o equilíbrio; tive dores de cabeça recorrentes. Eu não dava muita atenção, achava que era “normal”. No final do mês de outubro de 2024, tive a minha primeira crise convulsiva. Nos meses que se seguiram, as crises se tornaram frequentes, e comecei a esquecer palavras ou frases. Com tudo acontecendo rapidamente e a fraqueza no corpo, precisei procurar um médico. O diagnóstico de Epilepsia do Lobo Temporal Mesial não foi exatamente uma surpresa, mas o diagnóstico de Esclerose Hipocampal me pegou desprevenida.

Claro que fui muito encorajada pelos médicos. Sou uma mulher jovem, a doença está no estágio inicial e pode ser controlada com medicamentos, sendo pouco provável que será necessário intervenção cirúrgica. No entanto, será necessário abrir mão de algumas coisas, por enquanto. Não haverá mais happy hour com amigos por algum tempo, nem aquele vinho de sábado à noite. A CNH vai precisar esperar mais alguns anos, e as viagens talvez só daqui a dois anos…

Eu sei que deveria ficar feliz em saber que tudo é reversível, mas fico com a sensação de que, todas as vezes em que tentei fazer minha vida andar, algo me fez parar. Um relacionamento tóxico me fez parar por um tempo. Depois veio a gravidez. Quando finalmente comecei a fazer a vida andar, veio a pandemia de Covid, e agora, tentando superar minhas dificuldades emocionais, tentando fazer a vida funcionar, novamente me vejo parada.

Nesse momento, o que me resta? Continuar a escrever, tentar fazer funcionar aquilo que dá, talvez finalizar a faculdade. Mas este ano, sinto que não haverá festa ou comemoração.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Deixando para Trás e Seguindo em Frente

Da última postagem até o presente momento, se passaram três meses e doze dias. Não parece um grande período de tempo, mas, acredite, muita coisa já aconteceu!
Na primeira semana de outubro, pedi demissão do meu emprego e, sinceramente, não me arrependi nem uma única vez! Na verdade, me senti muito bem e feliz por ter deixado para trás algo que não me fazia bem, encerrando assim um ciclo que foi verdadeiramente desafiador.

Consegui retomar a faculdade e, por enquanto, não vou perder a vaga. Tenho aproveitado essa oportunidade, me dedicado e me esforçado bastante para finalizar o curso. Inclusive, já tracei algumas metas a curto, médio e longo prazo. Estou bastante orgulhosa do meu desempenho até aqui, mas acredito que sempre posso melhorar. Amanhã o recesso das aulas chega ao fim e volto aos estudos, já estou planejando minha rotina com esse novo retorno.

Tenho me dedicado a cuidar da minha saúde, tanto física quanto mental. Apesar de tantas coisas estarem acontecendo rapidamente, comecei a enxergar a vida de forma mais leve e tranquila.

Reconheço que, às vezes, é necessário dar um tempo ao tempo, compreender melhor as minhas necessidades e aprender a não me cobrar tanto. Tenho ficado satisfeita com a minha evolução. Embora, em alguns momentos, sinta que ela seja mais lenta do que eu gostaria, tenho tentado me lembrar de que minha vida não vai mudar de um dia para o outro. As decisões que tomo agora irão impactar a pessoa que serei no futuro. Portanto, se quero algo bom para mim, preciso começar a trabalhar nisso agora.

Sei que fiquei esse tempo sem me dedicar à escrita de forma recreativa, mas o blog faz parte das metas anuais que quero cumprir. E, principalmente, escrever me faz bem.